terça-feira, 14 de julho de 2009
Meus caros amigos, eu a escrever sobre A Bola e o fedorento RAP, quando na Bíblia vermelha, Miguel Sousa Tavares, vem dizer que está de acordo com o fedorento...?! Sou eu, de certeza absoluta, que estou a ver mal o problema, pois ao contrário de mim, o Miguel é crítico, um ser pensante, superior, desalinhado, que já começa a por em causa tudo...Diz o Miguel:
«Por uma vez, estou de acordo com o que Ricardo Araújo Pereira aqui escreveu: como é que, tendo facturado mais de 260 milhões de euros em vendas desde que foi campeão europeu, a SAD do FC Porto conseguiu aumentar o défice? Como é que, tendo facturado 40 milhões em vendas na época passada, tendo chegado aos quartos-de-final da Champions, tendo registado o recorde de receitas de assistência no campeonato, conseguiu, do ano passado para este, fazer crescer o défice em mais onze milhões?
A resposta é só uma: as contratações a granel e a folha de pagamentos de um plantel com 70 (!) profissionais. As contratações de jogadores que certamente nunca ninguém viu jogar antes, como o Bénitez, ou de jogadores que valem muito pouco mas que já foram do Benfica ou consta que são pretendidos pelo Benfica — uma longa lista de «barretes» enfiados, desde o Iuran, o Kulkov e o Jankauskas, até ao Hélder Postiga, recomprado ao Tottenham por que constou que o Benfica o queria ir buscar. Espero bem que a próxima bravata falhada não seja o tão anunciado Falcao. Espero que, sendo esse o motivo principal da compra deste, desculpem, desconhecido colombiano, desta vez, ao menos, o valor dele o justifique. Como sucedeu nos inesquecíveis casos do Jardel (que devemos a Gaspar Ramos) ou do Deco (que devemos a Luís Filipe Vieira) — bem-hajam eternamente.
Entretanto, a situação é esta, por enquanto: Jesualdo tem um excesso de laterais (seis); tem cinco centrais, mas, se Bruno Alves sair, fica apenas com um de garantias dadas — Rolando; tem, com a saída de Lucho, um acrescido défice de médios de ataque, reduzido que está a Raul Meireles, porque não é com Tomás Costa e Guarín que lá vai e Belluschi é uma incógnita por desvendar; e, no ataque, tem apenas Orlando Sá para fazer esquecer Lisandro ou a hipótese de puxar Hulk para o meio, que não parece a mais indicada para tirar o melhor proveito das suas características.»
Só que eu como estou atento e até guardo as crónicas do jornalista/escritor, estive a verificar o que ele tinha escrito, curiosamente, no período difícil da época passada e encontrei lá o artigo, que podem ler em baixo, onde a conversa era a mesma de agora.
«Terça-feira, 28 de Outubro de 2008
Nem tanto ao mar nem tanto à terra
1 - Parece que um grupo muito especial de adeptos portistas fez uma espera aos jogadores, após a derrota com o Leixões, e, entre outros desacatos, atacou o carro de Cristian Rodriguez, numa triste repetição do episódio sucedido há anos com Co Adriaanse. Não vale a pena tecer grandes considerações sobre o assunto, porque ele é pacífico: este é o futebol que vamos tendo, aqui e lá fora, e é por isso que há cada vez menos gente decente a frequentar o futebol. Diga-se, porém, e em abono da verdade, que as claques organizadas não são apenas um cancro do futebol, mas o reflexo de uma sociedade sem valores. A «coragem cívica» das multidões organizadas em gangues de intervenção é o contraponto exacto da falta de coragem individual. Sozinhos, os portugueses não se atrevem a nada; em bando, atrevem-se a tudo.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra
1 - Parece que um grupo muito especial de adeptos portistas fez uma espera aos jogadores, após a derrota com o Leixões, e, entre outros desacatos, atacou o carro de Cristian Rodriguez, numa triste repetição do episódio sucedido há anos com Co Adriaanse. Não vale a pena tecer grandes considerações sobre o assunto, porque ele é pacífico: este é o futebol que vamos tendo, aqui e lá fora, e é por isso que há cada vez menos gente decente a frequentar o futebol. Diga-se, porém, e em abono da verdade, que as claques organizadas não são apenas um cancro do futebol, mas o reflexo de uma sociedade sem valores. A «coragem cívica» das multidões organizadas em gangues de intervenção é o contraponto exacto da falta de coragem individual. Sozinhos, os portugueses não se atrevem a nada; em bando, atrevem-se a tudo.
Uma das demonstrações da falta de coragem individual é a renúncia à capacidade crítica contra os poderes instalados. A multidão do Dragão, justamente irritada com o que vai vendo, é capaz de fazer esperas aos jogadores, assobiar a equipa e acenar com lenços brancos contra o treinador. Mas ninguém, individualmente, se atreve a levantar a voz e assinar por baixo uma crítica aos verdadeiros responsáveis: a administração do clube, que, ano após ano, vende os melhores para comprar camionetas de jogadores de terceira categoria, com isso destroçando a equipa, arruinando o clube e prestando um péssimo serviço ao futebol português — que exporta para a Roménia, Chipre ou equipas nacionais sem projecção, os jovens valores formados nas escolas, em benefício de sul-americanos de ocasião, que proporcionam negócios rentáveis a quem não devia. Quando uma simpática e persuasiva funcionária do FC Porto me telefonou em Agosto, lembrando que eu ainda não havia renovado o meu dragon seat, eu respondi-lhe, meio a sério, meio a brincar, que, constatando o esforço titânico que a administração estava a fazer para vender o Quaresma a qualquer preço (como viria a suceder), eu perguntava-me para quê renovar o lugar no Dragão: para ver Adelino Caldeira a fazer cruzamentos de letra ou Pinto da Costa a marcar golos de trivela?
A razão pela qual o FC Porto desta época é o que está à vista é simples, tremendamente simples: porque, como aqui o escrevi há semanas para grande escândalo de outros observadores para quem há gente e coisas intocáveis, é que este FC Porto é a pior equipa da década, pelo menos. A geração que ganhou a Liga dos Campeões em 2003, foi destroçada, e, da que se lhe seguiu, já só restam Lucho e Lisandro. Mas Lucho, que havia começado a época em grande, entrou em crise psicológica e não tem quem pegue na equipa em vez dele, e Lisandro está em guerra surda com a SAD — que é capaz de pagar 200.000 euros por mês ao Cristian Rodriguez (apenas 50.000 a menos do que Quaresma foi ganhar para o Inter), é capaz de pagar alguns 50.000 a jogadores que nem na Segunda B teriam lugar, é capaz de pagar uns trinta ordenados a jogadores para brilharem noutros clubes, mas não tem dinheiro para pagar ao Lisandro o que ele acha que merece. Talvez o Lisandro esteja a exagerar, mas quando os maus exemplos vêm de cima, porque não aproveitar, quando se é um dos raros ali que fazem a diferença?
É fácil, facilíssimo, atirar as culpas para cima do treinador: é sempre assim, quando não se sabe gerir. Eu acho que Jesualdo tem feito o melhor que pode, com equipas que, de ano para ano, são cada vez piores. E, como já aqui o disse, tirando erros pontuais às vezes incompreensíveis — como a insistência no Mariano González ou essa fatal tendência dos treinadores portugueses para mudarem a equipa toda e renunciarem ao ataque, de cada vez que têm um jogo difícil pela frente — Jesualdo só pode, eventualmente, ser culpabilizado por ter sido cúmplice ou testemunha silenciosa dos negócios que desmantelaram a equipa e a puseram a falar castelhano e a jogar um futebol que depende da inspiração de não mais do que dois ou três jogadores.
À vista de todos, a este FC Porto falta, para começar, um guarda-redes a sério e é incrível que não o tenha. Todas as equipas que conheço devem vitórias e resultados aos guarda-redes: não me lembro, desde que Adriaanse reformou Baía, de um só jogo em que se possa dizer que o FC Porto ficou a dever o resultado ao guarda-redes. Depois, falta-lhe um lateral-esquerdo de categoria internacional, até para libertar o Fucile para a direita, onde ele é bem melhor do que Sapunaru. E mais uma vez é incrível como é que, tendo comprado 13 (!) defesas-esquerdos nos últimos dez anos, não se comprou um único que desse garantias. Falta-lhe, a seguir, pelo menos dois grandes médios de ataque, que libertem o Raul Meireles para o lugar de trinco (onde, entre os cinco vindos este ano, não há um só que preste!) e libertar o Lucho (enquanto lá está...) do peso de ter de carregar em exclusivo a equipa para a frente. E falta-lhe, para terminar, dois extremos a sério, pois que só tem um e Jesualdo nem sequer gosta de apostar nele: o Candeias. Borda fora foram, além do Quaresma, o Pittbull, o Vieirinha, o Alan, o Hélder Barbosa, o Diogo Valente. É preciso ir às compras em Dezembro, mas calma: não vale a pena ir já a correr reservar um charter para a América do Sul. Há muita gente aí, emprestada, que deve ser mandada voltar para casa e, embora eu duvide, se possível, trocada por uma dúzia de inutilidades que por lá andam.
Com esta equipa, não vale a pena alimentar ilusões nem agitar lenços brancos. Não vale a pena caírem em cima do treinador, porque nem Mourinho conseguia fazer daquilo uma equipa a nível europeu. E, depois, também manda a verdade que se diga, que Jesualdo não tem tido sorte. O Dynamo de Kiev não fez nada para merecer ganhar no Dragão: fez tanto como o Sporting fez para merecer ganhar em Donestk. Com a mesma sorte do Sporting (aquele remate de Lucho ao poste, por exemplo), o FC Porto teria ganho ao Dynamo e com justiça. E com a sorte que o Benfica teve contra a Naval, teria ganho, ou pelo menos empatado, com o Leixões e não se estaria agora a falar em crise. Mas as coisas são o que são e estamos todos habituados a ver o FC Porto a superar erros de arbitragem e bolas ao poste. Foi o que fizemos em Alvalade, contra o Sporting e contra Lucílio Baptista e aí escreveu-se que estava de volta o FC Porto dos últimos anos. Não estava e logo se viu. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. A fórmula actual é simples: em dia de inspiração de Lucho e Lisandro, o FC Porto ganha; em dia de desinspiração deles, não ganha, porque não há ali ninguém mais que tenha categoria para desequilibrar um jogo»
A pior equipa da década, pelo menos, ganhou a dobradinha e fez figura na Champions League. Mas de Miguel, nada, nem uma única palavra para dizer, que afinal não era tanto como ele dizia...A equipa não era assim tão fraca, pois ganhou muito e mais do que isso, se o F.C.Porto quisesse vender o onze da tal equipa fraca, seria muito fácil consegui-lo...
- Meu caro Miguel, tenho por ti toda a estima e consideração, mas ainda bem que não és tu que diriges o F.C.Porto, caso contrário, meu caro Miguel, seria um desastre!
Se eu não te conhecesse, diria que os ares de Lisboa te andam a fazer mal ou que, para manteres o estatuto de crítico, até não te importas de fazer estas figurinhas, mas como te conheço, apenas direi que tu, meu caro Miguel, de futebol, de dirigir um clube de futebol, não percebes nada...e não aprendes nada!
O Delgado, o Serpa, o Bonzinho e afins, devem adorar estes artigos! Sem esquecer, os grandes pensadores portistas, claro!
Ah, já me esquecia: Miguel não vás para o Brasil, pois e apesar de tudo, quando falas do Circo vermelho, não há ninguém como tu!
As crónicas do Miguel, foram retiradas de um dos meus blogs de referência: http://portistaforever.blogspot.com/