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terça-feira, 22 de maio de 2012


Como estamos na fase do nem o pai morre, nem a gente janta, entrevistas com substância. A primeira - a ordem dos factores é arbitrária. Gosto muito dos três -, é a de L.Obradovic ao Jogo. Sou fá, desde a primeira hora, do treinador sérvio. Gosto da sua exigência, competência, filosofia, serviço é serviço, conhaque é conhaque. Independentemente do que vier a acontecer no Basquetebol e Hóquei, L.Obradovic é o meu Técnico do Ano. A sua equipa ganha e dá espectáculo. Ora, quando se junta uma coisa à outra... A segunda é de Nelson Puga, também ao jornal de Joaquim Oliveira. Sobre o médico do futebol profissional, já disse tudo em vários posts... A última foi a de Nuno Capucho, ao Somos Porto, do Porto Canal, embora neste caso só quando o vídeo estiver disponível seja possível ver a entrevista...

L.Obradovic:
No dia 23 de julho começará a quarta época seguida no FC Porto; ninguém o fazia desde José Magalhães [1997/98 a 2000/01]. Fez o tetra que o FC Porto não conquistava há 52 anos e o próprio Obradovic nunca tinha ganho três títulos seguidos. Qual é a fórmula deste casamento feliz?
O FC Porto é um clube especial, um clube que tem como objectivo ganhar em qualquer modalidade, um clube que vence há muitos anos e que vai continuar a vencer. Vencia antes de mim, vence comigo e depois de mim vai continuar. Porque no FC Porto, a filosofia de vida é ganhar.

Este é um casamento bem-sucedido a vários níveis: longevidade, sucessos e até a relação com os adeptos, que lhe deram uma tremenda salva de palmas na festa do tetra...
Não gosto muito de falar sobre mim, mas digamos que isto é uma química entre mim e os dirigentes, os dirigentes e os jogadores, entre mim e os jogadores - entre nós todos, há uma química positiva. Eu gosto de uma atmosfera positiva e, quando isso existe, os resultados aparecem. Tenho todo o apoio da estrutura do FC Porto, posso fazer o treino que quero, quando quero, onde quero. Isso é um privilégio e tenho de deixar daqui um "muito obrigado" ao professor Magalhães, que está sempre a par de tudo, e, com isso, é normal que as coisas funcionem. Isto pode dar a sensação de que não é difícil, mas é, porque cada jogo é importante, em cada jogo queremos ganhar e todas as equipas querem cada vez mais ganhar ao campeão. Mas esta é uma equipa que sabe jogar, que tem uma mentalidade ganhadora - e temos de continuar assim.

Já tinha estado em Portugal antes, no Belenenses, no Madeira, no ISAVE, mesmo noutros clubes em que jogou. Como olha agora, que está no clube, para o FC Porto?  
O FC Porto é um clube muito organizado, aqui é tudo impecável. Toda a gente respeitas as regras de jogar neste grande clube. Sinceramente não sei mais o que dizer, a não ser que é toda uma estrutura altamente profissional. 

Como sente o reconhecimento, as palmas dos adeptos, as taças, as medalhas?    
O FC Porto tem adeptos espectaculares em todas as modalidades, desde o futebol às de pavilhão. São adeptos que sabem apoiar, que sabem levantar a equipa nos momentos maus e sabem apoiar. São adeptos extraordinários.

Quando olha para a próxima temporada e vê os adversários a fazer contratações, a ir buscar jogadores até ao FC Porto, isso não lhe abala a confiança? 
Porque haveria de abalar? São sempre sete contra sete. Podem ser mais altos, mais baixos, mais gordos, mais experientes, com mais qualidade... isso não me preocupa. Se o FC Porto estiver no nível com que terminou a fase final, não me preocupo. Isso depende da política de cada clube. A orientação do FC Porto é construir jogadores, com a nossa filosofia de andebol, e dos nossos jogadores mais novos, construir seniores. Outros têm outra política, de comprar jogadores já feitos, prontos a jogar.

Mas constroem e ganham na mesma...
Nós queremos pensar no que é bom para o FC Porto e para o andebol em Portugal. Temos miúdos com grandíssimo futuro. No próximo fim de semana é a fase final dos juniores e o [Carlos] Martingo tem obrigação de ganhar, não pode fugir a essa responsabilidade. Se se mete na cabeça que é para ganhar, é para ganhar mesmo; se perde, levanta a cabeça e segue em frente. Mas eu tenho toda a confiança em Martingo e em Ricardo Moreira, gosto mesmo da forma como eles trabalham. Vamos construir mais treinadores e jogadores; Ricardo Costa também tem um bom grupo no Colégio dos Carvalhos.

Gilberto Duarte foi o MVP do campeonato com apenas 21 anos. Quais as possibilidades dele no futuro?
Ele é um grande talento e é trabalhador e, quando essas duas coisas se juntam, tudo se torna mais fácil. Entrando na Liga dos Campeões, todas as equipas de topo vão bater à porta do FC Porto e perguntar pelo Gilberto. O futuro dele é mesmo o mais alto nível. A Portugal, falta estar na Liga dos Campeões e falta a Seleção participar no Campeonato da Europa e do Mundo. Isso é a chave do futuro e temos de pôr a mexer o Gilberto, o Wilson, o Tiago Rocha, os jogadores do Sporting, do Benfica, temos todos de crescer.

Após esta série de conquistas, falta a entrada na Liga dos Campeões... 
É o sonho do FC Porto [suspira e encosta-se na cadeira]. Estes anos não tivemos sorte, ou cabeça... alguma coisa faltou. Vamos a ver este ano, o adversário, o local... Além disso, isto não é só desporto; esta é uma equipa que precisa mesmo da Liga dos Campeões e de ganhar esse tipo de experiência. Entrando, faz dez jogos e, no outro ano - não sei quantos pontos faltam a Portugal para entrar directamente -, uma meta é conquistar estes pontos que dão a Portugal a entrada directa. O FC Porto já demonstrou que está à frente das outras equipas em Portugal, e esse é um bom sinal para a Selecção, que pode contar com os jogadores do FC Porto.

A sua caminhada no FC Porto começou há três anos com duas derrotas, no Sporting da Horta e depois, em casa, com o Xico, à segunda e terceira jornadas. Nessa altura teve alguma dúvida?
Eu nunca tenho dúvidas sobre o meu trabalho. Quando o prof. Magalhães chegou a Belgrado para falar comigo, só lhe fiz uma pergunta: "Ao fim de dois meses não vai estar ao lado dos jogadores?" Ele perguntou porquê, e eu disse-lhe que os jogadores em Portugal não estavam habituados a trabalhar desta maneira e iriam perguntar porque trabalhamos tanto e ele disse-me que não haveria nenhum problema. Essas dúvidas deles aconteceram mesmo. Houve que trocar os hábitos dos jogadores, o que não é fácil, aprender uma defesa nova, como se atacam as diversas defesas dos adversários, e isto não se faz em dois meses. Mais tarde tivemos dois jogos fora, no ABC e no Sporting, trabalhámos duro e eu disse aos jogadores que se jogássemos mesmo bem nesses dois jogos, seria "culpa" do treinador. Ganhamos no ABC e no Sporting, e foi nessa altura que a opinião deles sobre mim mudou.

Ao fim de três anos há as vitórias, os bons resultados, as boas exibições, os números... Está satisfeito ou ainda pode espremer mais desta equipa? 
Eu nunca estou satisfeito. Com o tipo de trabalho que faço, nunca posso estar contente. Nós, no FC Porto, vamos construir jogadores, mas também vamos construir treinadores e digo sempre aos meus colegas Carlos Martingo, Ricardo Moreira e Ricardo Costa que nunca podemos estar contentes, temos de procurar sempre mais, até à perfeição. O jogo é o espelho de treino e se se treina bem, joga-se bem; se se treina mal... é impossível. Mas há que estar sempre em cima dos jogadores, os meus treinadores têm de estar por cima dos atletas, eles têm de saber respeitar o treinador e crescer.

Agora, com nove pontos para o segundo classificado, o Madeira SAD, e 13 para os terceiros classificados, Sporting e Benfica, como motiva os atletas e os convence de que podem fazer melhor?
Estamos aqui para deixar os outros festejar? Claro que não. Por isso não é difícil motivá-los. Nós aqui temos grande fome de vitória. Cada jogador e eu próprio temos grande fome de conquistas. Temos um grupo de jogadores que gosta de jogar, gosta de defender, gosta de atacar, sabe defender, sabe atacar, sabe festejar. Se falarem com os jogadores, percebem que eles estão contentes aqui. É um privilégio para mim trabalhar com eles e, para eles, é um privilégio jogar no FC Porto.

Este último campeonato foi o mais fácil de todos? Tantos pontos de avanço...
Para vocês, é sempre tudo fácil... Os pontos de avanço não dependem só de nós. Não perdemos na fase final e, depois, os nossos adversários jogaram entre eles e perderam uns com os outros. Nós fazemos um caminho certinho, sempre a olhar para a direita, para a esquerda, sempre atentos, sempre vigilantes.

Pinto da Costa celebrou em Abril 30 anos de presidência. Que opinião tem sobre o presidente, que conhece há três anos? 
Pinto da Costa é um senhor, é um grande senhor. Está sempre perto de nós, como está do hóquei e do basquetebol, sabe sempre o que se passa e o que se faz e é um grande adepto, um senhor. Só lhe posso dizer um "muito obrigado" pelo apoio, lembro-me de que foi ele quem fez a minha apresentação. Ricardo Moreira deu-lhe a medalha de campeão? Um grande vencedor tem sempre espaço para mais conquistas.

Nelson Puga
Onde estava no 27 de maio? 
Em estágio da selecção nacional de voleibol, em Espinho, e com jogo marcado contra o Luxemburgo nesse mesmo dia, para a mesma hora da final de Viena. Felizmente, por minha influência junto do Presidente da Federação de Voleibol, conseguiu-se alterar a hora do encontro para mais tarde. Vi o jogo com o meu colega de quarto, outro grande portista, o Humberto Silva, e no final fomos a pé pela rua em direcção ao pavilhão do Espinho, a comemorar a vitória com os muitos portistas da selecção e com todos os outros que começaram a aparecer na rua. Também ganhámos nessa noite, por 3-0, e fiz questão de jogar com a camisola do FC Porto por baixo da camisola da selecção. Além disso, a cada ponto que fazíamos, os vários portistas, comemorávamos com gritos de "Poortoo", como se estivéssemos a festejar na Baixa. No final, regressámos novamente a pé, a celebrar, agora com muito mais adeptos, e só não nos deixaram ir para a Baixa, como pretendíamos, porque tínhamos outro jogo no dia seguinte. O barulho da festa em Espinho ouviu-se, contudo, até altas horas.

Que tipo de contacto tinha, enquanto figura do clube, com a equipa de futebol? Que recorda dessa ligação?
Na altura, nenhum; era apenas sócio. Mas já não faltava a nenhum jogo do futebol sénior e jogava voleibol no clube. Aliás, nesse ano ganhámos o Campeonato e a Taça de Portugal de voleibol.

Tendo um conhecimento transversal do antes e do depois, que mudanças identifica? 
Sobretudo de mentalidade. O presidente fez-nos acreditar que com mais trabalho e mais união poderíamos ultrapassar barreiras impensáveis.

Que tipo de loucuras cometia, nesses anos, pelo FC Porto? 
Todas, como as de qualquer outro adepto muito crente. Nunca perdi um jogo do FC Porto por motivos profissionais (alterava as urgências nem que fosse com um colega a substituir-me umas horas), nem familiares, excepto quando casei, a 28 de Setembro de 1985. Mas nem por isso deixámos de festejar o triunfo por 3-0 sobre o Chaves. Já agora, acrescento que o meu primeiro filho nasceu no ano do FC Porto Campeão Europeu (1987) e o segundo num ano em que fomos Campeões Nacionais (1990). Aliás, enquanto assistia ao parto, que coincidiu com um jogo fora do FC Porto, a um domingo, estava a ouvir o relato… Tudo correu mais fácil quando o FC Porto marcou o segundo golo. Ganhámos por 2-1, em Santo Tirso, e meia hora depois nascia mais um dragão feliz.

Para quem passou pelas épocas em que o FC Porto pouco ganhava, como foi a inversão do ciclo e o que a sustentou? 
À data, também acompanhava muito as outras modalidades do clube, e no Vólei, por exemplo, que era treinado pelo meu pai, já via o FC Porto a ganhar e a ser mais forte do que os outros. Foi só esperar que no futebol isso também passasse a acontecer.

Qual é a sua primeira memória do FC Porto, do momento em que percebeu que era portista? 
Lembro-me que ia muitas vezes às Antas com o meu pai, e ao futebol, aos domingos, com ele e com o meu avô materno. Aliás, tenho uma foto minha, com apenas três anos, em pleno relvado do Estádio das Antas.

Que características estão na base da afirmação do clube e são comuns a estes últimos 25 anos? 
Humildade, trabalho, união, luta, competência e defesa intransigente das nossas causas.

Sendo atleta do clube, costumava ver os jogos no estádio? Guarda alguma memória da campanha para Viena? 
Vi todos os jogos no nosso Estádio das Antas, excepto dois: o primeiro, porque não se realizou lá (jogámos em casa emprestada, no Estádio dos Arcos, onde fiz questão de marcar presença); e o segundo, a contar para as meias-finais, contra o Dínamo de Kiev, porque estava na Suíça com a selecção de voleibol. Tive a sorte de, pelo menos, poder ver o jogo em directo na televisão (recordo-me que em Portugal o jogo não foi transmitido; só pôde assistir quem esteve nas Antas).

O que diferenciou a campanha de 1987 da de Basileia, três anos antes? 
Julgo que fomos mais realistas e acreditámos que podíamos vencer. Foi o primeiro grande salto internacional, o mais importante e simultaneamente o mais difícil.
Quando olha para a próxima temporada e vê os adversários a fazer contratações, a ir buscar jogadores até ao FC Porto, isso não lhe abala a confiança?

Nuno Capucho:
Pena o vídeo não estar disponível, porque foi muito boa a entrevista do Campeão Nacional de Juvenis, ao Somos Porto, do Porto Canal. Boas ideias, discurso simples, mas claro e discorrido, cultura e mística portista, princípios bem definidos e uma certeza:
há muita gente com valor na formação, há uma marca e um modelo que é transversal a todos os escalões, de futebol à Porto.
Uma surpresa? Só para quem não conhecer Capucho...

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