domingo, 8 de dezembro de 2013
Dizia no post anterior que o F.C.Porto 2 - S.C.Braga 0 foi uma lição que deve ser aprendida por quem treina, por quem joga e pelos adeptos. A sombra - primeira-parte - e o sol - segunda-parte - da noite de ontem, mostrou bem aquilo que não devemos fazer, o que temos de fazer e no que diz respeito aos adeptos, mostrou que juízos de valor definitivos sobre técnicos, jogadores ou plantéis, podem ser precipitados.
Quem treina ter de perceber que da forma como temos jogado e jogamos ontem na primeira-parte, fica muita gente atrás, a equipa fica retraída, não há ninguém a ocupar espaços e a receber a bola entre-linhas, frente a equipas fechadas, a tendência é meter longo na frente e aí, Jackson sozinho, tem de receber, meter na área e ir a correr finalizar. Isso não é a nossa matriz, isso não é Porto. Foi, resumidamente, o que se viu ontem na parte sombria da exibição portista. Quero acreditar que a passagem para o sol da segunda-parte não foi apenas fruto da lesão de Lucho, foi um abanão do treinador, a percepção de Paulo Fonseca que era preciso desmanchar o triângulo do meio-campo, torná-lo mais dinâmico, mais subido e mais pressionante e dos jogadores que perceberam que tinham de melhorar nos vários itens, desde a atitude até à qualidade de jogo.
O golo nos primeiros minutos ajudou, é verdade, mas mesmo que possa ser encarado como especulação, tenho a sensação, pela forma como a equipa entrou para a segunda-parte, que tudo ia ser diferente nos segundos 45 minutos. Espero que tenha sido o click que faltava e a partir de agora que não haja retrocesso. Podemos não ganhar sempre, empatar e até perder jogos, mas o Porto do futuro tem de ser aquele da etapa complementar do jogo de ontem. Para isso é fundamental que o líder da equipa técnica lidere, perceba e faça perceber que não podem ser as reacções fortes dos adeptos ou a presença mais ou menos regular do Presidente junto do plantel, a motivar e mobilizar as tropas. Espero que ontem tenha sido o Grito do Ipiranga, o momento em que Paulo Fonseca deitou para trás das costas todos os medos e receios. Como disse nos posts após a escolha do actual treinador, treinar o F.C.Porto não é fácil, é muito difícil. Mas quem treina o F.C.Porto, aguenta a pressão de uma exigência muitas vezes excessiva e pouco paciente, se tiver sucesso e levar o barco a bom Porto, sai da Universidade do Dragão doutor, está preparado para enfrentar tudo, aqui ou na Conchichina.
Aos adeptos pede-se calma nos juízos de valor definitivos sobre tudo e mais alguma coisa. No futebol e há tantos exemplos, as coisas mudam muito depressa. Dizer que o plantel não tinha valor e o treinador não tinha culpa nenhuma, mesmo quando jogamos frente a equipas como o Belenenses, Nacional, Áustria e Académica e não frente a colossos do futebol europeu, não fazia qualquer sentido, como não faz sentido pensar que temos um grupo com capacidade para ganhar a Champions e o defeito é apenas de quem treina. O jogo de ontem é paradigmático e mostrou que nem tanto ao mar nem tanto à terra. Quem visse apenas a primeira-parte, diria que temos um plantel de pernas de pau; quem visse apenas a segunda, que temos um excelente plantel. Eu continuo a pensar o que pensava quando fechou o mercado e fiz a análise ao plantel do F.C.Porto: falta um ala de qualidade e desequilibrador, com a saída de Fucile e o problema com Izmaylov, precisamos de alguém para trás e alguém que substitua o russo. Se analisarmos com calma e não à luz de péssimas exibições, veremos que se excluirmos essas lacunas, temos dois bons guarda-redes; quatro centrais que dão garantias - Mangala e Maicon podem desenrascar nas laterais; dois laterais, Alex e Danilo que têm muita qualidade; um meio-campo de muitas e boas soluções, gente que dá para várias cambiantes tácticas e vários sistemas de jogo; e um ataque onde há um magnífico ponta-de-lança, Jackson, o outro, Ghilas, mostrou valor no Moreirense, um Varela que apesar da irregularidade - sol e sobra - não é um avançado descartável.
Há também um Licá que precisa de uma injecção de confiança - está num daqueles momentos em que a bola parece que tem picos e nem as coisas mais simples consegue executar - e Kelvin que não pode só ser aquilo de ontem, embora quem entra ao minuto 90 só tenha aquela possibilidade de dar nas vistas. O caso do herói da época passada é um mistério para mim. Quando o vi na pré-época pareceu-me mais jogador, alguém que podia dar algo à equipa, disse até que comigo, no mínimo, ia sempre para o banco. O que está falhar?
Portanto e resumindo, tínhamos gente para fazer melhor. Gente para liderar tranquilamente o campeonato e chegar aos oitavos na Champions. Na prova rainha da UEFA ainda não acabou, no campeonato e na altura que escrevo, estamos em primeiro, mas em igualdade pontual com o Benfica. Não adianta agora chorar, continuar a olhar para trás, andar à procura de bodes expiatórios. Para a frente é que é o caminho e de preferência sem percalços iguais aos que nos deixaram à beira de um ataque de nervos.
As claques:
As claques são uma realidade, vieram para ficar e olho para elas sem qualquer preconceito e nenhum complexo. Estou farto de meninos de coro que são muito certinhos, muito direitinhos, nunca erram e raramente têm dúvidas. Analiso o Colectivo e os Super como analiso a equipa. Se merecem elogios, elogio. Se merecem críticas, critico. Não tenho dúvidas da sua importância no Dragão e em particular nos jogos fora do Dragão. Sem as claques muitas vezes o nosso bonito estádio seria uma espécie de velório, graças às claques o F.C.Porto fora nunca caminha sozinho. É graças ao Colectivo 95 e aos Super-Dragões que o F.C.Porto tem sempre vários milhares a apoiá-lo e nestes tempos difíceis isso merece relevo e uma palavra de estímulo.