sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
A ideia de jogo que Nuno Espírito Santo explicou, hoje, na antevisão do F.C.Porto vs S.C.Braga, recorrendo a vários desenhos, até pode ter funcionado em alguns jogos, mas poucos, não funcionou, deixou muito a desejar em muitos outros - teorizar com uns rabiscos num papel, mesmo não tendo grande dom para o desenho, não é difícil, passar isso para a prática, de forma consolidada, sistematizada, aí, é que a porca torce o rabo. E neste F.C.Porto versão 2016/2017, o rabo tem torcido muito... Por exemplo, que Danilo recua para o meio dos centrais que alargam e os laterais projectam-se, é fácil de perceber; que os dois médios interiores descem para receber e tocam nas alas ou no chamado ponta-de-lança, também; bem como outras variantes que NES explicou no papel. O problema é que no campo, ao contrário do que acontece no papel dos desenhos, há jogadores adversários e esses têm, na maioria dos jogos, tornado muito difícil a vida ao F.C.Porto... e não precisam de ser grandes equipas...
Sendo apenas um treinador de bancada, também sou capaz de pegar num papel e dizer como jogaria o meu F.C.Porto. O problema era ir para o campo e na prática colocar o modelo e o sistema funcionar.
Dizer-se que nesta série de jogos que não venceu, o F.C.Porto esteve mais perto de ganhar que perder, é verdade, mal fora que não fosse assim - todos os adversários eram inferiores. Mas o facto é que não ganhamos e pior, nem um único golo marcamos.
Qual a intenção de NES com estas explicações? Pedir mais tolerância, mais apoio, mais tempo? Tolerância, tem tido a que outros no seu lugar não tiveram; apoio não tem faltado; tempo para colocar a máquina a funcionar melhor, também - estamos em Dezembro... Não sei... A não ser que o treinador do F.C.Porto sinta que tem o lugar em risco e veio pedir ajuda aos adeptos. Se foi esse o objectivo, para mim essa questão é fácil, agora como no passado, chicotadas a meio da época, não, a não ser em circunstâncias muito especiais e não devem estar apenas dependentes dos resultados. Quais? Como os adeptos só vêem os jogos, não têm outros dados importantes: trabalha-se bem no dia a dia, o treino é de qualidade? O discurso para dentro passa com facilidade, é motivador, agregador? Os jogadores confiam e estão com o treinador? O técnico está com ganas de dar a volta ao texto? Devem evitar pressionar, pedir a saída do treinador, deixar isso para quem tem os dados todos. E assim, se quem está lá dentro e acompanha de perto o dia a dia do F.C.Porto, acha que os itens para manter o treinador, estão todos preenchidos, então garanta-se o treinador, independentemente dos próximos resultados, tire-se pressão. Se não estão preenchidos, então resolva-se rapidamente o problema. Se acontecer, a fase seguinte tem de ser tratada com todo o cuidado, com um rigor cirúrgico, algo que tem faltado nas últimas escolhas. Se não tivesse havido esse rigor, a crise de 2000 a 2002, com três títulos perdidos, não tinha durado só esse tempo...
A realidade está aí e não deixa mentir: o F.C.Porto está numa crise desportiva que já entrou na quarta época e com uma situação financeira muito complicada. Com este cenário é perfeitamente natural e legítimo que surjam críticas e desde que sejam feitas com respeito, de forma objectiva e construtiva, não vem daí nenhum mal ao mundo, pelo contrário. O F.C.Porto precisa de todos, dispensa arrogância, autismo, precisa de um líder agregador e não um líder que catológue os adeptos entre bons e menos bons, ou maus. Para valorizar os méritos dos Super e do Colectivo, não é preciso colocar tanto e tanto portismo dedicado, em xeque. Só assim será possível que alguns sinais positivos se consolidem, pequenos passos se tornem grandes passos. Só com a unidade na esmagadora maioria dos Dragões, conseguiremos por fim a este ciclo complicado.