Não ouvimos ou lemos, as equipas de Sérgio Conceição são equilibradas, organizadas, compactas, dominam bem o processo ofensivo e defensivo, têm os sistemas e modelos bem trabalhados, definidos, consolidados, jogam um futebol com qualidade, dão bons espectáculos. Sérgio Conceição é um treinador sagaz, pró-activo, mexe bem, as suas equipas são unidas, solidárias, têm atitude, carácter. Não, ouvimos ou lemos, Sérgio Conceição é portista, sente o F.C.Porto, vai dar uns murros na mesa, vai falar alto e grosso, não se vai encolher perante nada e ninguém. Curioso, mas significativo. O Dragão está sedento de voz, de alguém com um discurso forte, motivador, mobilizador, galvanizador. Mas que seja objectivo e assertivo, não populista nem demagógico, a disparar contra tudo que mexe, numa espécie de oitenta depois do oito com Nuno Espírito Santo. Procurando ir mais longe, porque é que isto acontece? Porque estão os portistas sedentos de portismo ou mística e de voz?
Porque o líder foi sempre e quase exclusivamente o grande protagonista, agora e sobre aquilo que verdadeiramente interessa - como chegamos aqui, como vamos sair daqui? Porque uma coisa é perder um ano ou dois, outra é quatro anos em branco. Uma coisa é perder porque se desinvestiu, vendeu-se, mas não se comprou, cortou-se nos salários e isso baixou a qualidade e exigência, outra é perder por erros de gestão, por opções que a priori já pareciam condenadas, mas insistiu-se no mesmo erro. Porque estamos numa situação financeira muito má, até já admitimos pagar uma multa por violação do fair-play financeiro da UEFA? - não é capaz de ter a humildade dos grandes, explicar-se. Pior, qualquer crítica, mesmo a mais objectiva, bem intencionada e feita de forma respeitosa, feita por portistas de sempre e para sempre, é olhada de soslaio, quem a faz só falta ser acusado de mau portista. O F.C.Porto está numa grave crise desportiva e financeira, precisa de todos. Era bom que quem dirige percebe-se isso e não se colocasse na posição de intocável. Mais grave, que haja quem seja mais papista que o Papa.

Nota final:
Alguém acha que processo da escolha de treinador indicia que aprendemos com os erros, as coisas vão mudar para melhor? E, por favor, não culpem o Sérgio Conceição. Ele é o menos culpado de tudo que se está a passar.