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segunda-feira, 14 de maio de 2012


Porque sempre disse que era no fim é que se devia falar da época, chegou a hora da minha análise sobre a temporada 2011/2012. É óbvio que muitas das coisas que vou dizer já foram ditas, mas pela importância, não vem nenhum mal ao mundo se me repetir. Será uma análise de boa-fé, que procurará ser objectiva e construtiva. Para fazer este post andei a dar uma volta por aquilo que tinha escrito, por alguns comentários que foram aparecendo e se de alguns, depois da conquista do título, não esperava nada, outros houve de quem esperava um mea culpa que não aconteceu. Paciência, cada um é como é. E vamos ao que interessa...

Conheço bem o F.C.Porto e quem o dirige, mas como nunca dirigi, nem um clube de bairro, não posso, como alguns que andam por aí, ter a pretensão de que sei mais de que quem tem décadas de provas dadas, com resultados excepcionais, ao mais alto nível do futebol europeu. A juntar a tudo isso, não estou lá dentro, não sei porque aconteceram algumas situações. Assim e como não posso de confrontar os responsáveis do F.C.Porto com as minhas dúvidas e interrogações, sobre aquilo que na minha opinião, correu mal, não era normal acontecer no F.C.Porto, será uma análise que terá apenas por comparação outras épocas portistas.
Começando pelo início, se esta época já seria difícil - gerir o sucesso não é fácil e gerir o sucesso depois de uma época extraordinária, pior ainda, mesmo para quem tem muita experiência... -, a saída do rapaz que foi para Londres, quando já tudo indicava que ia continuar e a oito dias de começar a temporada, só piorou a situação. Entrou Vítor Pereira, uma solução rápida, natural e uma escolha que não mereceu grande contestação junto dos adeptos. Mas se os adeptos começaram por apoiar, para alguns jogadores, principalmente aqueles que davam mostras de querer sair, foi uma desilusão e devem ter pensado: se quem fazia juras de amor eterno, saiu, porque não saio eu? As más caras, as azias e mesmo contestação, após as substituições, factos que sempre aconteceram, mas este ano foram em muito maior número, junto com alguns maus resultados - principalmente na champions - e exibições fracas, contribuíram para a turbulência, que o discurso, redondo, pouco esclarecido, motivador e mobilizador de Vítor Pereira, não ajudaram a por cobro. Acresce também que a saída de um jogador como Falcao e a sua não substituição - não havia dinheiro após as caríssimas contratações de Danilo e Alex Sandro, mais que as de Mangala e Defour ( à frente abordarei esse assunto) -, apesar de Kléber, foi um factor negativo.
Fica a sensação que com o avançado que tantas saudades deixou no Dragão, alguns problemas teriam sido resolvidos e melhor disfarçada a crise que a certa altura se instalou. O auge do mau estar e contestação foi atingido com a eliminação da Taça de Portugal, frente à Académica. Aquilo não era Porto, era preciso fazer alguma coisa, mas em primeiro, aguentar, para na abertura do mercado de Inverno, então, tentar solucionar o problema. Chegados a Janeiro, saíram Walter, Guarín, Belluschi e Souza e entraram Lucho, uma espécie de clique; Danilo começou a jogar ; e veio M.Janko, embora o ponta-de-lança - pela falta de pasta - não tenha sido o a solução ideal e só tenha vindo no último dia do mercado, quando, pela carência, notória, devesse ter vindo logo após pausa natalícia. O plantel ficou mais curto, mais sujeito a problemas de lesões, mas ficou mais homogéneo, menos gente a ficar de fora. Embora tivessem continuado as atitudes lamentáveis, de que Cebola, Rolando e Alvaro foram exemplos, as coisas melhoraram e mesmo depois da derrota em Barcelos, quando muitos já atiravam a toalha, conseguiu-se reverter a situação. É verdade que a qualidade de jogo continuou a não ser famosa, ainda aconteceram um ou outro percalço, mas foi possível atingir o principal objecto, o título. E foi possível porque na hora H, na hora da verdade, nos jogos que decidem quem é quem, o Dragão e a sua cultura de sucesso, que ninguém mais tem, ainda foi capaz de fazer a diferença.
Mais coisa menos coisa, foi isto que aconteceu e assim importa colocar algumas questões e apontar alguns episódios, aquilo que na minha opinião, não esteve bem.

Primeiro, o caso do ponta-de-lança que não veio em Agosto e tardou a vir em Janeiro.
Tendo gasto demasiado com Danilo e Alex Sandro, perto de 30 milhões de euros, o F.C.Porto ficou sem capacidade de ir buscar o avançado que queria e pretendia. Não devíamos ter gasto tanto? É verdade, mas a partir de certo momento, quando a questão era saber se os dois laterais vinham para o F.C.Porto ou iam para o Benfica, tornou-se um caso de política desportiva e tivemos de além do que podíamos. Estamos, provavelmente, a falar dos futuros laterais da selecção brasileira, saber que podiam estar na Luz em vez do Dragão, ajuda a compreender o porquê da loucura. Para além disso, mesmo sendo muito caros, acredito que no futuro o retorno estará garantido. Aliás, no caso de Danilo, se não se tem magoado e tem continuado a jogar e da forma como estava a fazê-lo, hoje seria um forte candidato a preencher uma lacuna que Mourinho quer resolver, o lugar de lateral-direito do Real Madrid.
Resumindo, erramos - nem tudo está bem quando acaba bem - ao não contratar o ponta-de-lança em Agosto, em demorar demasiado em Janeiro, mas compreende-se porquê.

Outra questão que me custou a entender: porque deixou Helton de ser capitão do F.C.Porto? Como não acredito e agora é a altura própria para o dizer, na história de poder ser castigado por sair da área e ir falar com o árbitro, algo deve ter acontecido. O quê? Não sei e aceito que há coisas que têm de ficar no segredo do balneário, mas pergunto: terá a ver com os avanços e recuos sobre a renovação do contrato?

Porque não saiu C.Rodríguez, não em Janeiro, mas há anos atrás, quando mostrou ser a antítese do jogador à Porto? Lesionou-se no final de a época 2008/2009, se não estou em erro, ao serviço da selecção, fechou-se em copas, gozou férias e apareceu lesionado de volta ao trabalho, quando se tem avisado, podia ter sido acompanhado por um fisioterapeuta, ter começado a recuperação nas férias e chegado recuperado ao trabalho. Aliás, uma prática que era normal no F.C.Porto. Quantos jogadores foram de férias acompanhados por fisioterapeutas? J.Costa, Paulinho Santos...
Não tendo saído nessa altura, porque conseguiu, apesar do historial de conflitos, sair a custo zero  e depois de ainda na 1ª volta ter atitudes lamentáveis? Será verdade que mesmo assim, ainda tentamos renovar o contrato com ele? Para recuperar algum do investimento? Se quando chegou, a sua contratação foi unanimemente aplaudida, depois correu mal, paciência. Há investimentos que correm bem, outros mal. Devia ter-se assumido essa postura  e não ter no plantel um foco de instabilidade permanente.

Porque passou Rui Quinta para a bancada, o preparador físico - agora chamam-se metodólogos? -, para o seu lugar no banco e entrou Paulinho para a equipa técnica? Embora deixe a interrogação, este tema talvez seja mais pertinente abordar no post sobre Vítor Pereira, mais à frente.

Barcelos, se a exibição foi muita má e só nos ficou bem assumi-lo, tirando a declaração do treinador que não foi lá muito feliz e uma declaração aligeirada do Presidente, não houve uma posição formal do F.C.Porto e devia ter havido. Não nos devemos andar sempre a queixar, mas pelo historial de arbitragens em jogos do F.C.Porto e porque a arbitragem de Bruno Paixão foi vergonhosa, a pior de todo o campeonato, devíamos ter reagido.
Em Barcelos também, três jogadores, Alvaro, Cebola - esteve em todas! - e Otamendi, tiveram atitudes lamentáveis para com os adeptos do F.C.Porto e nada lhes aconteceu. Condescendência para que tudo não desabasse?

Resumindo, posso estar a esquecer-me de mais um ou outro episódio, mas estes foram aqueles que mais se notaram. Importa dizer que embora factos destes não serem normais no F.C.Porto, na altura própria, só com uma estrutura forte, imune a pressões e que dirige o clube de dentro para fora, que não é perfeita, mas é a melhor, foi possível levar o barco a bom porto e conseguir o 26º título.


Vítor Pereira continua
A continuidade de Vítor Pereira era para ficar para amanhã, mas como o Presidente vai ao Porto Canal, não quero que a minha análise seja de alguma forma condicionada e perca actualidade, seja esvaziada pelas declarações do Líder, avança hoje.

Pinto da Costa, a SAD e o Director Geral decidiram e está decidido: Vítor Pereira continuará a ser o técnico na próxima época.
Pelas razões apontadas anteriormente e pelos posts que fui publicando ao longo da época que ontem terminou e que tiveram Vítor Pereira como protagonista, ficou claro que a tarefa do treinador não era fácil, era, uma tarefa dificílima, que causaria dano a qualquer treinador consagrado, muito mais dano causariam a um treinador que era adjunto, sem nunca ter trabalhado na 1ª Liga, que pegou na equipa a oito dias de começar a época e de forma imprevista. Quando se pedia tolerância e compreensão, ela não apareceu e desde cedo o técnico portista foi contestado, muitas vezes de forma baixa, torpe, indigna de portistas e em alturas cruciais da época. Por exemplo, gozar com derrotas do F.C.Porto ou dizer que se torcia para o  F.C.Porto perder e assim o treinador sair; dizer que para o ano se VP continuasse não se renovava o Dragon Seat; ou fazer apelos ao boicote a jogos no Dragão, é colocar-se a um nível que faz inveja a um freteiro Delgado, Reco-reco Guerra, Rui Gomes da Silva e outros rascas e ordinários que andam por aí. Mas se isto é lamentável e para mim inaceitável, a crítica objectiva, construtiva e de boa-fé, é sempre bem-vinda. é isso que sempre procurei fazer, é isso que faço hoje, focando-me em quatro pontos:
Qualidade do futebol portista; discurso do treinador; opções - escolha dos onze e substituições; liderança.

Qualidade do futebol:
É óbvio que sendo eu crítico do futebol praticado no tempo de Jesualdo - mas nunca faltei ao respeito ao professor, nem permiti que lhe faltassem, assim como nunca pedi a sua cabeça, antes do final da época. E mesmo quando já era certa a sua saída, tive enquanto a época não terminou, o máximo de contenção... - não me podia agradar o desta época, que foi fraco, com as excepções a serem muito poucas. Em alguns jogos entravamos a dormir e a dormir continuavamos, sem que do banco surgisse qualquer reacção para alterar o rumo, agitar as águas. Raramente Vítor Pereira foi pró-activo. Melhoramos após o fecho do mercado de Inverno, mas nunca o futebol portista foi entusiasmante, de deixar água na boca, deixar os portistas ansiosos que chegasse o próximo jogo.

Discurso:
Como já referi por várias vezes, no futebol de hoje em que as condições são muito diferentes do passado, a diferença entre os grandes e os pequenos se esbateu notoriamente, o acesso a informação está à mão de semear e quase todos os clubes trabalham bem, muitas vezes o que faz a diferença é o discurso. A forma como se passa a mensagem, se motiva, se consegue e transcendência é pelo discurso e o discurso de Vítor Pereira é fraco, cinzento, a maioria das vezes não aquece, nem arrefece, muito menos mobiliza, galvaniza, transmite confiança a adeptos... É algo que Vítor Pereira tem de trabalhar, o técnico do F.C.Porto não pode ser teimoso, desperdiçar aquilo que de bom tem o clube para lhe oferecer.

Opções:
O sistema foi, preferencialmente o 4x3x3, alternando em alguns jogos para o 4X2X3X1 ou 4x2x1x3 e o modelo alternou entre a posse, mais vezes e as transições ofensivas - contra-ataque - quando Hulk jogava pelo meio. A colocação do Incrível no meio gerou muita controvérsia, como também gerou controvérsia a colocação de James nas alas. Ou Maicon como lateral -direito. Sobre isso já disse tudo, mas posso resumir: com Janko e Kléber - esqueçam o jogo de Sábado... -,  a produzirem muito pouco, os alas Hulk e James a terem tendência para interiorizarem; sem o Alvaro da época passada, sem Sapunaru em condições e com Danilo a vir só em Dezembro, em alguns jogos, os teoricamente mais difíceis, aceito a opção. James, no meio, rende mais, mas dificilmente em 4X3X3 e também nunca o colombiano esteve aprisionado às laterais. Maicon a lateral, foi solução de emergência, quando não havia Danilo e Sapu andava com a cabeça nas nuvens. O onze natural de Vítor Pereira, com todos os jogadores operacionais, seria... Helton, Danilo, Maicon, Rolando e Alvaro, Fernando, Lucho e Moutinho, Hulk, Janko e James, com a entrada de Varela para ao lugar do austríaco e a passagem do nº12 para o meio, em alguns jogos. Pelo menos é essa a minha sensação.

Sobre as substituições, tirando a facto já referido de não ser pró-activo, tal como acontece com todos os treinadores, umas vezes acerta-se, outras não. Por aqui não me parece as críticas devam ser muitas.

Liderança:
Nunca tantos reclamaram e se insurgiram quando saíram durante o jogo ou não jogaram, como esta época. Liderança fraca, frágil, sem capacidade para se fazer respeitar desde o início? Azias quase generalizadas que tiveram de ser tratadas com pinças, sob pena de tudo ser ainda pior e colocar em causa o objectivo principal da temporada? Falta de apoio no princípio, apoio que pareceu mais presente a partir de Coimbra? Como justificar a chegada de Paulinho Santos e passagem de Rui Quinta para a bancada?

Meus amigos, está tudo dito e só me resta acrescentar o seguinte:
Manda que pode, tem legitimidade, provas mais que dadas e obedece quem deve. Aceito a continuidade de Vítor Pereira e para mim só se justificaria uma mudança se fosse para dar um passo em frente em termos europeus, coisa que nos tempos que correm não está ao nosso alcance. Vamos ter se ser contidos nos investimentos, vamos ter de aproveitar a base que temos, alguns jovens que estiveram fora e mostraram valor. Trocar Vítor Pereira por Domingos, Jorge Costa ou outro do género, não faria sentido para mim. Acredito que com tempo para pensar e preparar a nova época à sua maneira, com o título conquistado a jogar a seu favor, tudo pode ser melhor em 2012/2013, mesmo em termos europeus.
Vítor Pereira da minha parte contará e como sempre, com elogios quando os merecer ou críticas quando se justificar. Tudo sempre de boa-fé, com respeito pelo homem e pelo profissional, de forma objectiva e construtiva. Como é óbvio, as circunstâncias serão diferentes e como tal, a exigência será maior.
Quem tem opinião diferente, pode dizê-lo sem problemas, mas dentro das premissas que são conhecidas. Comentários do género, com Vítor Pereira vai ser um desastre, com Vítor Pereira não compro o Dragon Seat, etc., não, não vou aceitar.

Desculpem o post ser muito longo, mas as razões justificam-se...

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