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quarta-feira, 19 de maio de 2010


«Jesualdo, a vida

Meu caro prof. Jesualdo

Nunca imaginei vê-lo fazer o que fez no Jamor: levantar-se, abrupto, da conferência de imprensa, praguejando, descabelado:
– Vocês não me querem aqui!...
Vocês?! Acha que somos nós, sádica camarilha de jornalistas, que não o queremos aí? Dê saltinho ao blog Dragão até à Morte – e veja. É, no futebol as opiniões não mudam apenas com os resultados ou a palidez das exibições, mudam por sinais, humores e espantos – e sobretudo quando nos esquecemos do que somos. Foi o seu drama: esquecer-se do que o FC Porto é, não se dando largo por dentro, na alma, ao sonho deles. Isso também está no Dragão até à Morte, num post fechado em angústia: «Sr. prof. no final do jogo com o Chaves, sabe o que se dizia no autocarro em que viajei? Que o pessoal vinha mais animado da derrota na Taça da Liga do que da vitória de ontem. E a malta não é masoquista...»
Pois, a história mostra-o: mais tarde ou mais cedo, quase todos os treinadores, mesmo os bons como você, transformam-se numa espécie de monstro em que há dois homens num, o segundo é o que se perde, se destroça, se lamenta, se irrita. E o seu problema, pressente-se, é que 90% dos portistas acreditam que esse segundo homem em si já desfez, fatal, o outro. Sim, um dos desportos nacionais predilectos é a caça ao bode expiatório e num jogo como o futebol por trás do culpado que se aponta há dezenas de falsos inocentes a dormirem à sombra tranquila do destino – é cruel, é assim. Agostinho da Silva ensinou-me que pode haver encanto filosófico em termos a coerência do incoerente e a originalidade de não nos importarmos nada com isso. Ao pensar nessa ideia dele, outra me apareceu, súbita: mesmo depois do que eu já disse de si, se o seu substituto não for Domingos Paciência ou Carlos Queiroz – injusto é não continuar você aí. Mas se ficar ou for para outro lado, não se esqueça, nunca mais, de que o optimista ou o audaz erram tanto como o pessimista ou o medroso mas sofrem muito menos...»

Ver o "Dragão até à morte" citado em A Bola, não seria motivo de orgulho ou de satisfação, seria até, caso para perguntar: o que fiz eu de errado? Mas ver o blog citado por um jornalista brilhante - para acalmar os mais nervosos, o António Simões citou pela primeira vez o "Dragão até à morte, mas eu já pensava assim há muito tempo, basta ver os destaques dados ao "Com a bola ou talvez não", cujo primeiro destaque, A BOLA também tem coisas boas!, data de 30 de Abril de 2008 -, isento e equilibrado nas análises, um jornalista que estimo e admiro e uma ilha no imenso Oceano Vermelho que é o pasquim da Queimada, já é outra coisa e não posso deixar de confessar que fiquei muito contente e orgulhoso.

Tal como o Paulop, a parte final do artigo - «Mas se ficar ou for para outro lado, não se esqueça, nunca mais, de que o optimista ou o audaz erram tanto como o pessimista ou o medroso mas sofrem muito menos...» - é a que me toca mais, porque sempre foi isso que critiquei em Jesualdo: os seus medos, as suas cautelas excessivas, a sua pouca ousadia, enfim, a antítese do que é o F.C.Porto.

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