Sou leitor e comprador de A BOLA há mais de 40 anos - alguns amigos chamam-me masoquista - e por isso sei bem o que aquela casa gasta. No meio do imenso Oceano Vermelho que é o jornal da Travessa da Queimada, existe uma pequena ilha - não sei nem me interessa de que cor -, um Paraíso, que vale a pena disfrutar semanalmente. São os artigos do jornalista António Simões, com o título " Com a bola ou talvez não ", que nunca perco e que recomendo. O artigo desta semana, que considero excelente, resolvi partilhá-lo com todos os que me visitam.
Espero sinceramente, que gostem tanto como eu gostei.
Ah, é sempre à terça-feira.

" CARROÇAS VAZIAS..."

"Durante a semana que se encheu de esquizofrénicas e ridículas suspeitas e insinuações que obrigaram o FC Porto a ir a Guimarães fazer papel de mulher de César – lembrei-me de um conto que conta que o pai que levara o filho a passear ao bosque depois de muito andar parou à sombra de uma clareira e atirou-lhe em murmúrio:
– Ouves alguma coisa para além do cantar dos passarinhos?
– Talvez o barulho de uma carroça...
– Sim, é chilrear de carroça vazia...
Espantado, o catraio perguntou-lhe como sabia que vazia estava a carroça se ainda não a vira – e ele respondeu-lhe, filosófico:
– É fácil, quanto mais vazia estiver a carroça, mais barulho ela faz...
OK! E o que aconteceu depois? Como as verdades se tornam sempre maiores quando se soltam dos fios da blasfémia ou da má-língua, a grande verdade do Afonso Henriques até nem foi a descoberta de que o FC Porto, mesmo em Plano B, não tem paralelo nem contestação em Portugal – foi que os seus jogadores e o seu treinador não gostando de se ver reflectidos em espelhos pouco transparentes e sentindo-se espicaçados pela aleivosia tornaram-se mais perigosos do que são – e deu no que deu... Ah! e como no futebol não há melhor verdade do que a verdade que há no sentimento de poder de quem realmente o tem, aqueles 5-0 ao segundo classificado também não mostraram apenas a maior diferença da história dos campeonatos em Portugal entre o primeiro e os outros, mostraram sobretudo que quem teima, bufarinheiro, em soprar a ideia de que este FC Porto é o que é e está como está por nascer e viver, perverso, em imaginados submundos de mentira e embuste – é carroça vazia em sua metáfora..."