terça-feira, 15 de novembro de 2011
Tal como tinha prometido ontem, fica a reportagem do L'Équipe magazine, junto do F.C.Porto, já devidamente traduzida.
Agradeço ao meu amigo Caetano do blog Zé do Boné
Página 1
Sem ter um orçamento enorme e apesar da recorrente partida dos seus melhores jogadores, o FC Porto reconstrói constantemente uma equipa talentosa. Eis como conseguiu erguer 24 troféus desde 2001, um dos quais a Liga dos Campeões.
Página 2
Caixa 1 – Bom vendedor, o FCPorto é também um formidável descobridor de talentos. É desta forma que o seu brasileiro Hulk, descoberto na 2ª divisão japonesa em 2008, possui actualmente uma cláusula de rescisão de 100 milhões.
Caixa 2 – P.C. Presidente do FC Porto desde 1982: "Não temos os recursos do Real mas possuímos um grande rigor económico e financeiro. Aqui tudo nos pertence. São activos muito importantes."
Caixa 3 – Porto, 27 de Outubro. Angelino Ferreira, administrador, apresenta as contas de 2010-2011. Há 5 anos que clube está equilibrado financeiramente.
Pela 5ª época consecutiva, as contas do FC Porto estão no verde, com 534 000 € de receitas. Numa sala do Estádio do Dragão, onde assiste à apresentação do relatório de contas de 2010-2011, Pinto da Costa, presidente do clube desde 17 de Abril de 1982, está satisfeito. Desde o início do século XXI, o Porto conquistou 24 troféus, um dos quais a Liga dos Campeões em 2004, diante do Mónaco (3-0), e também 7 campeonatos, 6 Taças de Portugal, uma Taça Intercontinental e acaba de conseguir uma época excepcional, com um “triplete” Campeonato – Taça – Liga Europa, algo que já conseguira em 2002-2003. Nenhum clube conseguiu este registo. No entanto, pertencendo a um país onde as receitas em termos de direitos televisivos (apenas 11M€ na última época), de patrocínios da camisola e de marketing são forçosamente limitados, o Porto não tem armas para lutar economicamente contra os mastondontes espanhóis, ingleses ou italianos. Esta época, o clube prevê ultrapassar pela primeira vez os 100M€ de orçamento anual (o Real Madrid tem um orçamento de 500 M€). Pinto da Costa, 73 anos, recusa o termo “milagre”: “Não temos os meios do Real, do Barça, do Milan ou dos clubes de Manchester, mas possuímos um grande rigor económico e financeiro. Temos um passivo (200 M€ em 2010-2011), é certo, mas a situação está totalmente controlada. As dificuldades temporárias de tesouraria existem, como em qualquer empresa, mas o facto de estarmos cotados em bolsa (desde 1997), obriga-nos...
Página 3
Caixa – O Porto contrata jogadores em todo o lado mas sobretudo na América do Sul. No ano passado, após duas épocas no Banfield, na Argentina, o internacional colombiano de 20 anos James Rodriguez, assinou pelo clube lusitano por 5 M€
...a ser transparentes e os nossos auditores são extremamente rigorosos”. O clube dispõe de infraestruturas soberbas: o centro de treinos de Gaia e o ultramoderno Estádio do Dragão. “Tudo nos pertence”, prossegue Pinto da Costa, “são activos muito importantes”. Mas não tanto quanto os que fazem a grande força do clube: os seus jogadores, frequentemente comprados a baixo preço e revendidos a preços bastante superiores. Este Verão, o Porto vendeu o seu avançado colombiano Falcao ao Atlético de Madrid por 40 M€, após tê-lo comprado por 5,5 M€ dois anos antes. Desde o ano 2000, o clube obteve mais de 415 M€ em receitas de transferências (ver abaixo) e apresenta a particularidade de vender também... os seus treinadores. O Chelsea pagou 6M€ por José Mourinho em 2004 e 15M€ este Verão por André Villas-Boas.
"Havia uma cláusula no contrato do André, o Chelsea pagou o montante da cláusula, está tudo dito. Não fico com a impressão de sermos duros em termos negociais. Em qualquer negociação um bom produto vende-se caro, não é? Olhemos para o exemplo do Aly Cissokho (vendido ao Lyon por 15M€ em 2009). Se o OL o quiser vender hoje, fa-lo-á por um preço superior ao que pagou por ele"
O Porto vende jogadores que chegam a titulares nos seus novos clubes: Deco, Ricardo Carvalho, Anderson, Lisandro, Pepe... O que é caro para um clube são os jogadores que não jogam!”.
Se o Porto sabe vender, sabe também e em primeiro lugar comprar muito bem, antecipando as inevitáveis partidas em um ou dois anos e emprestando frequentemente os jogadores recrutados a outros clubes portugueses, em modo de “incubadora."
A sua vasta rede de prospecção, estimada em cerca de 300 pessoas no Mundo inteiro, permite-lhe estar atento à menor oportunidade. É impossível fotografar o departamento de observação, alojado nas entranhas do Estádio do Dragão, onde uma gigantesca base de dados de vídeo é constantemente actualizada.
"Muitos antigos jogadores, amigos, em Portugal e no estrangeiro, nos ajudam nesta área”, explica o presidente . A ideia é simples: recrutar jogadores para em primeiro lugar ter bons resultados desportivos e depois bons resultados económicos, quando forem para outras paragens. Falcao partiu mas já temos jogadores fantásticos como James Rodriguez (médio atancante colombiano, 20 anos) ou Juan Manuel Iturbe (atacante argentino, 18 anos) que representam..."
Página 4
Caixa 1 – IMAGEM DE MARCA “Aqui ganhamos muitos títulos e depois podemos sair para um grande clube. Os jogadores sabem-no muito bem. A marca Porto existe” - Rui Barros, antiga glória do clube e hoje olheiro.
Caixa 2 - Mangala, certo da sua escola – Após Stephane Paille (1990-1991) e Aly Cissokho (2009), Elaquim Mangala tornou-se este Verão no terceiro jogador francês da rica história do FC Porto. Este atlético defesa central de 20 anos, internacional esperança, fez a sua carreira na Bélgica onde viveu 15 anos, e deixou o Standard de Liége por 6 M€. “Discutimos com o Antero Henrique os projectos que tinham para mim e a política do clube agradou-me” assegura ele que estava igualmente nos planos do Benfica, da Udinese e do Valência. “Decidi-me depressa. Quando chegas a uma equipa que ganhou tudo e da qual apenas um jogador (Falcao) saiu, tentas estar estar pronto para quando fores chamado. Só tenho 20 anos mas, para os meus planos de carreira, o Porto era a melhor escolha. O clube é estável, bem estruturado. Nas primeiras semanas de treino senti-me submergido! Perguntava-me onde tinha vindo parar dado o nível daquilo que via.” Mangala estabeleceu-se no Bairro da Boavista e já experimentou a sua popularidade quando frequenta os cais da zona velha da cidade. “Estou a aprender português a pouco e pouco, ao mesmo tempo que estou a ter aulas de inglês. O clube ajuda-me em todas as minhas tarefas administrativas e de instalação, estamos perfeitamentE enquadrados”. No clube, Rui Barros como Henrique têm a certeza de ter acertado na contratação. “Ele tem ainda espaço para crescer mas é um jogador muito sério, com o perfil de um futuro líder”, diz Henrique. “Ainda por cima não jogava em França” o que permitiu um investimento menor que aquele que seria necessário se Mangala tivesse passado pela 1ª divisão francesa.
...o futuro”. Antero Henrique, director geral do clube que José Mourinho queria ao seu lado no Chelsea e depois em Madrid, é o homem forte do sector desportivo. Este quadragenário poliglota defende o espírito de solidariedade “Os olheiros, o staff técnico e a administração do clube têm de estar de acordo na compra de um jogador, a decisão deve ser unânime. A nossa avaliação não diz respeito apenas à qualidade desportiva do jogador, também damos importância à sua capacidade de integração e ao seu contexto familiar”.
O mercado sul-americanoé evidentemente o mais lógico em termos económicos e culturais. No entanto, Hulk, o poderoso atacante brasileiro, cuja cláusula de rescisão é de...100M€, foi descoberto na 2ª divisão japonesa, apesar de ter passado alguns meses da sua adolescência a jogar numa equipa dos subúrbios do Porto. “Hoje” inflama-se Henrique “Hulk é um dos 3 maiores jogadores do Mundo, juntamente com Messi e C.Ronaldo mas não o queremos vender”.
Rui Barros, lenda do clube onde foi jogador, treinador adjunto e onde hoje é olheiro, passou também pela Juventus, Monaco e Marselha. Em nenhum outro lugar encontrou um tão grande respeito pela identidade do clube. “A presença de Pinto da Costa, e também dos mais antigos, mantém uma tradição, um estado de espírito. Somos uma quinzena de ex-jogadores que ainda colaboram com o clube. Aqui a organização é evidente, apenas com 80 elementos, não há confusões”. O FC Porto, que recentemente assinou um importante acordo com um banco brasileiro (BMG) não esquece o mercado europeu, nomeadamente o francês. “É um país muito interessante uma vez que, no plano táctico, estão à frente” diz Henrique “A formação do jogador está quase completa, o que não é o caso dos jogadores sul-americanos. No entanto o mercado francês é caro para nós”. Apesar de tudo, o jovem avançado Thibaut Vion (17 anos) assinou no último Verão, proveniente do FC Metz, e Elaquim Mangala, vindo do Standard de Liége, começa a afirmar-se na equipa principal. (ler caixa 2, da página 4). “Para convencer um jogador francês, é preciso ir buscá-lo antes dos outros clubes” diz Rui Barros “A História fala por nós: aqui ganhamos muitos títulos e depois podemos sair para um clube ainda maior. Os jogadores sabem muito bem disso. A marca Porto existe”.
Este Verão, após ter tido de pagar 17M€ em prémios de jogadores relativos ao triplete, o clube investiu perto de 45M€ em contratações, dos quais 13 pelo brasileiro Danilo, 20 anos, emprestado ao Santos até Janeiro. “É um risco calculado” assegura Pinto da Costa. “Não tenho qualquer dúvida acerca da sua rentabilidade. Ele já é internacional”. Também será necessário vender e vender jogadores para manter o equilíbrio financeiro, sempre sob a direcção de um patriarca que nada parece afectar, nem o processo “Apito Dourado(*)” ou uma recente indisposição no regresso de uma derrota em Nicósia para a Liga dos Campeões, que comprometeu as hipóteses de qualificação do clube para os oitavos de final. Nem pensar em dar lugar a desconhecidos. “O clube foi fundado em 1893 e apoia-se sobre uma história, uma cultura e os sócios são muito apegados a ele.” indica Henrique. “Ser controlado por um investidor estrangeiro não é o nosso caminho. Podemos estabelecer acordos de parceria, perspectivar muitas coisas, é certo, mas o FC Porto nunca perderá a sua identidade.” Apenas os seus melhores jogadores.
STÉPHANE KOHLER
(*) Vasto caso de tráfico de influências e de corrupção de árbitros de meados dos anos 2000. Pinto da Costa foi julgado antes de ser ilibado em 2008
Duas notas finais:
Quando estou sem assunto, nada como virar a agulha para a Luz, há sempre tema de conversa. Vejamos... Eusébio meteu-se na confusão entre Alan e Javi Garcia e chamou estúpido ao jogador do Braga, porque, diz o personagem que tem o tremoço como marisco preferido, Alan é preto e não tinha nada que se zangar por o caceteiro Garcia lhe chamar preto... e mais qualquer coisita que não vem ao caso... Portanto, malta, a partir de agora, quem se referir a Eusébio, pode sempre dizer, quando se esquecer do nome do cavalheiro, por exemplo: "É pá, como se chama aquele preto que ganhou tantas botas-de-oiro como Fernando Gomes e C.Ronaldo?"
Se fosse no Brasil, alguém parafrasearia Romário e diria: Eusébio, calado, é um poeta!
Em dia de selecção, de Espanha, através da Marca, ficamos a saber que o problema de Ricardo Carvalho, há 44 dias parado, não tem a ver só com a lombalgia que o afectou, mas é, também, um problema psicológico resultante, ainda, do conflito na selecção. Paulo Bento tem esse "dom", não estabelece pontes, condena à morte, não dá hipóteses a actos de contrição, correcção de erros, pedidos de desculpas...
Miguel Sousa Tavares vai para o Brasil? e não vai estar cá quando o F.C.Porto iniciar o difícil ciclo que se avizinha. Oxalá, são os votos que faço, aconteça o mesmo que na época passada, o Campeão entre no rumo certo, o rumo das vitórias e de preferência, com boas exibições.