sexta-feira, 21 de março de 2008
Hoje, ao passar os olhos pelos arquivos do Dragão até à morte, deparei com um artigo de Miguel Sousa Tavares publicado num Semanário minhoto nos princípios dos anos 90, que pela sua actualidade e importância, resolvi partilhar com os frequentadores deste blog.
Em defesa do F.C.Porto
"Deixem um portista, nascido no Porto e criado em Lisboa, ocupe uma página de um semanário do Minho- onde ao que consta, o F.C.Porto tem hoje muito mau nome- para defender o seu clube. Mas acontece que, à roda do F.C.Porto se criou uma ficção e uma onda de hipócrisia geral que convém desmistificar. Até o Presidente do Vila Real, da 3ª Divisão, eliminado em casa pelo Porto para a "Taça", por um concludente 4-0 se veio queixar de que, se não fora a arbitragem, e o Vila Real tinha eliminado o Porto. Directa ou indirectamente, as supostas maquinações do F.C.Porto, servem hoje de justificação a todos os desaires desportivos, catrástrofes financeiras e disparates de toda a ordem cometidos na gestão dos clubes. Dizia Sousa Cintra, no ano passado- ia o Sporting à frente do campeonato, que "se houver verdade desportiva, este ano os campeões somos nós", acabaram a doze pontos do primeiro lugar, mas se não fosse a arbitragem...
Passei vinte anos da minha vida a ver o Porto ser roubado em todos os jogos que disputava em Lisboa.Digo roubado com consciência factual do que estou a dizer. Assisti a coisas inomináveis, tantas e tão escandalosas que quase me apetece dizer que, se fosse verdade que é agora o Porto que compra os árbitros, eu, pessoalmente, ainda não me sinto vingado nem compensado por duas décadas de abusos.Mas não creio que seja o caso. A grande verdade é que, por meados da década de 70, o clube tomou consciência da sua força, inverteu o seu espírito de parente pobre da província, e deixou de ser o bobo da festa e o animador oficial dos Campeonatos.
Quebrou-se o confortável "Status quo" estabelecido de há muito: três campeonatos para o Benfica um para o Sporting e a presidência da Federação confiada à guarda de Lisboa.
É isso que Lisboa não perdoa ao F.C.Porto renascido dos últimos anos:ter-se intrometido num diálogo a dois, reclamando e impondo um estatuto de igualdade. É evidente que o Porto não o conseguiu à custa das arbitragens. Nenhum clube se torna campeão regular no seu país, campeão europeu e campeão mundial! simplesmente comprando árbitros.
Mas a fama está criada e dela o F.C.Porto tem dificuldade em libertar-se, até porque tem contra si 95% dos jornalistas ditos desportivos deste país. Criou-se o mito e ninguém está interessado em desmontá-lo. Mas se formos aos factos, o panorama é elucidativo: este ano o F.C.Porto beneficiou de três erros de arbitragem- no Funchal, onde um golo do Marítimo foi mal anulado; em Braga, onde teve a seu favor um "penalty" inexistente e em Guimarães, onde um "penalty" contra o Porto ficou por marcar. Porém, o que ganhou o Porto com isso? No Funchal, mesmo com o golo anulado, perdeu o jogo; em Braga, falhou o "penalty" e em Guimarães, para compensar o "penalty" que o árbitro perdoou, sofrera antes um golo de "penalty", que só existiu na cabeça do árbitro. Ou seja não ganhou nem um ponto com qualquer dos erros de arbitragem. Em contrapartida perdeu um ponto em Faro, com um golo limpíssimo anulado, viu mais dois golos serem anulados sen razão contra o Famalicão, foi indecentemente prejudicado na 1ª mão da Super-Taça na Luz, onde o árbitro conseguiu transformar uma vitória numa derrota, e mesmo na Europa, foi afastado pelo Tottenham através de uma arbitragem, que essa sim, estava claramente pré-negociada. Compare-se agora este panorama com o do Benfica neste campeonato: em Barcelos e na Madeira com o União, ganhou ambos os jogos através de "penalties" que os próprios árbitros vieram reconhecer depois, terem sido indevidamente assinalados; em Paços de Ferreira empatou o jogo com um golo em "off-side" precedido de mão; e, por outro lado não foi, até agora prejudicado por qualquer decisão de arbitragem com influência no resultado. Ou seja: ao fim de metade do campeonato, o Benfica tem três pontos que deve ao árbitro. É assim que se ganham campeonatos. E, à parte o Benfica pergunto: o Braga eo Guimarães ainda não beneficiaram de nenhum erro de arbitragem este ano? Onde estavam então e o que disseram o Engº Mesquita Machado e o Dr. Pimenta Machado?
Agora, prosseguindo o "processo de moralização do futebol português", vai-se inaugurar o sorteio dos árbitros.
A estreia não podia ser mais eloquente para o Sporting-Porto de domingo próximo, foram excluídos todos os árbitros com quem o Sporting perdeu jogos recentemente, limitando-se o sorteio a 3 árbitros todos bem vistos em Alvalade. A"sorte" acabou por ditar a escolha de José Pratas, o mesmíssimo árbitro que, à menos de um mês , no Benfica-Porto da Super-Taça não viu um "off-side" de quilómetros que deu o golo ao Benfica e logo a seguir inventou um"off-side"que tirou o empate ao Porto. Pergunto simplesmente: se a escolha do árbitro tem sido feita ao contrário, em benefício do F.C.Porto, o que não se diria agora? E se, domingo passado em Faro, em vez de anular aquele golo ao Porto o árbitro o tem anulado ao Farense, o que teria acontecido neste país?
No ano passado, quando a comissão de arbitragem era suspeita de beneficiar o Porto, não havia jogo onde não se dissesse que o árbitro fizera o resultado. Mas olhando para as nomeações, constatava-se que, nos dezoito primeiros jogos do campeonato, o Porto tivera...dezoito árbitros diferentes (um "record" mundial).
Conclusão obrigatória: todos os árbitros estavam comprados. Todos, excepto um: Carlos Valente, escolhido a dedo para que o Benfica fosse campeão no jogo decisivo, o Porto-Benfica.
Gostaria, muito sinceramente, que essa legião de detractores do Porto desmentisse um só destes factos. Mas sei que é uma esperança inútil.
Factos não interessam, quando se pretende criar um mito".
Como verificaram, é um artigo que passados mais de quinze anos, continua actual.
Os medíocres e os invejosos dos nossos sucessos não dão tréguas, agora, como no passado.