segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Sem carpir mágoas e sem arranjar desculpas, recuperando jogadores que tinham sido desvalorizados e emprestados, elevando e potenciando o talento existente, junto com um discurso à Porto, na prática, sem calculismos nem receio de desagradar seja a quem for, Sérgio Conceição colocou o F.C.Porto no caminho certo, tanto que neste momento muitos dos que não levavam a sério a capacidade dos azuis e brancos lutarem pelo título já mudaram de opinião, acham que tem, mais, até apontam o F.C.Porto como principal candidato. Curioso e sintomático, uma sondagem no panfleto da queimada com a pergunta:«O F.C.Porto é a equipa que melhor futebol pratica?», a resposta foi de 69% a dizerem sim. E é verdade, é do F.C.Porto o melhor futebol, é a equipa portista que semanalmente tem provado ser a melhor. Aliás, os resultados não mentem: em 10 jornadas, 9 vitórias e 1 empate, sendo que esse em empate foi em Alvalade frente ao Sporting - na opinião de muitos entendidos, o melhor plantel e considerado o principal candidato ao título -, 28 golos marcados e apenas 4 sofridos, sem ter beneficiado de qualquer tipo de ajuda e sem que a justiça do resultado alguma vez fosse contestada - mesmo no único jogo que não conquistou os três pontos, a haver um vencedor, foi quase unânime que teria de ser o clube da Invicta. Ao contrário dos seus rivais que não podem dizer o mesmo quer num caso quer noutro. Mas se contra factos não há argumentos e exigir mais do Porto de Sérgio Conceição tenha um certo sabor a injustiça, isso não significa que o F.C.Porto tenha jogado sempre bem e o treinador tenha acertado sempre, esteja acima das críticas. Não, não jogou, não, o treinador já errou. Mas que o F.C.Porto é um líder indiscutível, é, um líder com garra, com espírito de luta, com coragem,um líder nesta altura firme e hirto como Moussa Marega, um jogador de antes quebrar que torcer. E o maliano por tudo aquilo que tem feito e já fez muito, é o exemplo mais notório do trabalho que tem sido levado a cabo no F.C.Porto, no que toca ao aproveitamento dos recursos disponíveis. Mesmo tendo feito uma boa época ao serviço do Vitória S.C., clube exigente, mas sem a exigência e os objectivos do F.C.Porto, Marega, tem surpreendido, é, para mim, a grande revelação do campeonato.
Marega, não é, longe disso, um primor de técnica, daqueles jogadores que a bola pode vir toda torta, ele mete-lhe o pé e ela fica ali obediente; tem até uma maneira de rematar um pouco ortodoxa, como se viu no golo que marcou ao Boavista; mas tem características que bem aproveitadas, como se tem visto, podem ser muito importantes para o F.C.Porto. Moussa Marega vai muito bem para o espaço, pena que faça isso várias vezes e a opção raramente é colocar a bola onde ele vai aparecer; dá profundidade, uma solução para quando o adversário está a impedir a circulação, pressionando; é muito rápido e por isso, excelente numa estratégia de transição ofensiva, contra-ataque; é muito generoso, dá o corpo ao manifesto, tanto é capaz de pressionar como ajudar nas tarefas defensivas; marca golos, já leva oito na Liga. Moussa Marega, não teve vida muito fácil no F.C.Porto, era motivo de gozo, considerado um flop, um desperdício de dinheiro. Agora, em que também José Sá é o titular da baliza portista, sabendo-se que os dois não custaram 5 milhões de euros, podemos concluir duas coisas: uma, o que o F.C.Porto pagou ao Marítimo foi uma pechincha; outra, que no futebol às vezes, muitas vezes, os juízos de valor definitivos são extemporâneos.
Ainda o Boavista - F.C.Porto.
O F.C.Porto fez um jogo muito bom frente ao Paços de Ferreira, no Dragão, jogando de início com José Sá, Ricardo, Felipe, Marcano e Alex Telles, Danilo, Herrera, Corona e Brahimi, Marega e Aboubakar, um 4x4x2, muitas vezes um 4x2x4. Compreensível por isso que Sérgio Conceição optasse pela mesma equipa e o mesmo sistema. Mas não há dois jogos iguais, o F.C.Porto do Dragão teve uma dinâmica, uma intensidade, uma capacidade de pressionar, circular e impor um ritmo que nunca se viu no Bessa, particularmente na primeira-parte. Quando é assim, também muito por culpa de um excelente Boavista, que estudou bem a equipa do F.C.Porto, esteve sempre organizado, equilibrado, intenso, o conjunto de Sérgio Conceição teve muitas dificuldades, nunca foi dominador, não exerceu uma superioridade clara, nunca encostou os axadrezados às cordas. Com Herrera pouco solto, os laterais, principalmente Ricardo, bloqueados, sem que Marega ou Aboubakar baixassem para preencher o espaço deixado entre médios e avançados, o Boavista encontrou aí as facilidades que lhe permitiram, quando recuperava a bola e recuperava-a rapidamente, lançar alguns contra-ataques perigosos, colocar a defesa azul e branca em sobressalto, apenas quando a bola chega a Brahimi, os Dragões davam um ar da sua graça. Passar um período difícil sem sofrer golos foi importante, o golo no início da segunda-parte ajudou a acalmar e se não vimos um grande Porto, já vimos um Boavista menos agressivo, menos consistente, ainda criou alguns embaraços, mas nunca teve a mesma qualidade dos 45 minutos iniciais. Com o 2-0 o jogo acabou, veio o terceiro, podia ter chegado o quarto. Foi, como disse no post do jogo, o vitória muito difícil, mas justa, muito valorizada pela forma como o Boavista se exibiu, muitos furos acima do que tinha mostrado no jogo frente ao Benfica. Concluindo:
Esperar da equipa de Sérgio Conceição shows de bola em todos os jogos, superioridade total sobre os adversários em todo o jogo e em todos os jogos, é não ter memória, esquecer de onde partimos.
Nunca me coibirei de dizer se gosto ou não gosto, mas se exijo atitude, carácter, profissionalismo, sempre, tenho consciência que não tenho o direito a exigir mais neste momento. Pelo contrário, não esperava tanto.
Não foi por falta de apoio que na época passada o F.C.Porto não ganhou nada, mesmo quando a equipa dava muito menos do que recebia, ao portismo só faltou entrar em campo. Nesta época o apoio ainda aumentou, chega a emocionar tanta paixão e dedicação e isso deve-se muito à forma como a equipa, treinador incluído, se têm comportado. Há muito mais identificação e proximidade entre adeptos e os profissionais. Ser Porto é agora muito menos uma frase feita, uma frase mais apregoada que praticada.