quinta-feira, 19 de abril de 2018
Não gosto de analisar de forma simplista, é preto ou branco, indo mais longe e utilizando uma velha máxima de Cândido de Oliveira, quando corre bem o treinador é bestial, quando corre mal é uma besta. E entre a vitória na Luz e a derrota de ontem em Alvalade, parece-me que é essa a forma como Sérgio Conceição está a ser julgado nos dois clássicos.
Vamos lá a ver:
Se é verdade que no domingo houve mais ambição, um F.C.Porto inconformado e particularmente na segunda-parte sempre a procurar a vitória, também é verdade que no domingo a vitória era fundamental, a única possibilidade que os Dragões tinham de conseguir voltar à liderança, ficar a depender apenas de si para chegar ao título. Ontem foi um Porto mais na expectativa, mais calculista, mais a aguardar que a procurar fazer acontecer. Mas é preciso lembrar que o contexto era diferente, o empate chegava e ele esteve a vista, faltava pouco tempo para acabar quando o Sporting marcou. Se a isto juntarmos outros factores que fizeram a diferença, na Luz quando cometemos um erro, Casillas evitou o golo; ontem, quando erramos, a bola bateu no poste e entrou. Frente ao Benfica e no último minuto Herrera fez um golão, ontem no último minuto Brahimi, em melhor posição, atirou rente à barra. Mais, se concordo que as substituições não resultaram, tirando a última de Óliver por Reyes - embora possa ter sido um sinal errado, mas com o jogo no fim, o nulo a persistir e o Sporting a procurar chegar rápido e directo à frente, foi um absurdo? Não acho. E não acho porque o golo foi logo no minuto imediato e depois da entrada do mexicano não vimos um Sporting melhor e o Porto retraído, de tracção à rectaguarda e a jogar para os penalties -, a de Soares por Aboubakar já tinha acontecido na Luz - curiosamente, nesse jogo ninguém se lembrou de dizer que em vez do camaronês devia ter entrado o Gonçalo Paciência - alguém pode criticar a de Otávio por Sérgio Oliveira, mesmo com o brasileiro a jogar bem? Não creio, quando o objectivo foi libertar mais um grande Herrera.
Marega devia ter jogado? Eu também gostava muito, tanto que o coloquei na minha equipa, mas depois de ter estado parado mês e meio e jogado 90 minutos de um jogo intenso - Marega não se poupa - e com outro jogo importantíssimo na segunda-feira, será que não era um risco demasiado grande meter o maliano?
Portanto, apesar da frustração e a desilusão de ficar pelo caminho com o Jamor ali tão perto, não acho que seja justo usar a teoria do bestial e besta em relação ao treinador do F.C.Porto, embora de forma objectiva e com respeito, tenhamos o direito de apontar aquilo que achamos não esteve bem no jogo de ontem.
Porque estes jogos deixam marcas no físico e na mente, agora mais importante que olhar para trás é preciso descansar, limpar a cabeça e olhar para a frente. Segunda-feira há mais, temos um título para conquistar e ainda vai ser preciso dar muito ao litro e ultrapassar muitos obstáculos para o conseguir.
Resumindo e concluindo:
É pena que a paixão não nos deixe raciocinar como deve ser, caso contrário perceberíamos que os pormenores da bola que muitas vezes bate na trave e não entra versus bola que bate na trave e entra, faz toda a diferença e esse é um dos encantos que nos faz viver apaixonadamente o futebol. Mesmo assim, como não saímos da Taça de Portugal sem honra nem glória, aos pés de uma equipa qualquer - e isso já aconteceu várias vezes - e não houve superioridade flagrante de uma equipa sobre a outra na eliminatória, ao ponto de se dizer que foi uma grande injustiça, espero que possamos apoiar mais que dramatizar, por muito que o soco tenha doído. Por tudo, mas porque este campeonato representa muito, é um dos tais que, exagerando, vale por 10. E os adeptos sofredores, portistas praticantes, que dão muito e apenas querem alegrias e as maiores vêm com a conquista de títulos, merecem bem ter uma bem grande em Maio.
Nota final:
"O guarda-redes brasileiro Júlio César revelou um episódio depois da final da Taça das Confederações, de 2013, onde o Brasil derrotou o Espanha, por 3-0, e o guardião foi eleito o melhor jogador, onde José Mourinho enviou uma mensagem a dizer ao brasileiro que ele era substancialmente superior ao espanhol.
«Quando cheguei ao balneário recebi uma mensagem de Mourinho que dizia: Estás louco. O Casillas é que deveria colocar a tua camisola e não ao contrário. Tu com apenas um braço defendes mais do que Casillas»"
Absolutamente lastimável que Júlio César ande a divulgar publicamente mensagens que trocou com José Mourinho acerca de Iker Casillas. Quanto mais não seja porque Iker tem um currículo impressionante, quando arrumar as botas ninguém o vai recordar como um guarda-redes que numa meia-final do Campeonato do Mundo encaixou SETE golos.