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quarta-feira, 17 de outubro de 2018


Há quem, a olhar para um filme chamado F.C.Porto, e porque apenas quer bater no produtor, realizador, intérpretes, tenda a ver apenas as partes más, as boas passam-lhe ao lado. Como não funciono assim, procuro aprofundar, vou deixar mais uns bitaites, alguns que já não são novidade para quem frequenta o Dragão até à morte, há algum tempo.
Alguém acredita que se o F.C.Porto, clube grande, mas da segunda cidade de um país pequeno, pobre e descaradamente centralista, não ousasse, arriscasse, apenas se limitasse a gerir os recursos disponíveis, alguma vez tinha ganho o que ganhou cá dentro e principalmente lá fora? SETE títulos internacionais, vão muito para além do sonho. Não, não acredito e ninguém de boa-fé acredita. Mas ganhou. E ganhou porquê? Por muitas razões, mas particularmente porque TINHA uma liderança forte, corajosa, o melhor gestor de riscos do futebol mundial, Jorge Nuno Pinto da Costa.

Dois exemplos que até são anteriores à SAD:
Começou logo com a contratação de Fernando Gomes, ao Gijón, quando o F.C.Porto não tinha dinheiro nem para mandar cantar um cego. Um acto de gestão arriscado, complicado, mas bem sucedido e cujo sucesso foi indiscutível.
Em 1987, o FCP tinha um plantel com Madjer, Futre, Gomes, Juary, Casagrande, Jaime Magalhães - para referir apenas os atacantes -, muito acima das suas possibilidades, tanto que após uma derrota comprometedora em Alvalade e que praticamente nos afastou do título, Pinto da Costa disse no balneário, ou eliminamos o Brondby, ou vamos ter graves problemas até ao final da época. Fomos campeões europeus, um feito extraordinário, o pequeno F.C.Porto derrotou o gigante Bayern.

Depois, já com SAD, foi com uma política desportiva que passava por contratar bem, valorizar, transferir com mais valias, reinvestir, mais uma vez ousando e arriscando, que o F.C.Porto venceu a Taça UEFA e no ano seguinte conseguiu esse feito notável e único que foi vencer a Champions League.
Posteriormente, foi também assim que o F.C.Porto foi tetra - Co Adriaanse e Jesualdo Ferreira - e podia ter sido novamente penta, não fossem alguns fenómenos que à luz do que se vai sabendo hoje, se explicam facilmente. Mas se não foi penta, após um hiato de apenas um ano, voltou a ser tri - André Villas-Boas e Vítor Pereira - e a fazer novamente história, vencendo mais uma prova europeia, a Liga Europa - durantes estes anos também se cometeram muitos erros, não há nenhum clube que não os cometa, perfeição no futebol é utopia, mas o saldo era claramente favorável. 

Depois tudo se precipitou, o F.C.Porto entrou no ciclo mais negativo do longo consulado de Jorge Nuno Pinto da Costa - 4 épocas sem meter a mão ao prato -, felizmente quebrado na época passada, mas é notório, pelo menos para mim, este já não é o mesmo F.C.Porto.
Quando no F.C.Porto um treinador teve tanto poder como teve Julen Lopetegui, ao ponto de até lhe ser permitido assinar contratos com jogadores? Mas ao mesmo tempo como foi possível não o apoiar, deixá-lo desde o primeiro dia ser cozinhado em lume brando e a lutar sozinho contra um polvo gigantesco? E se as coisas já não estavam muito bem, não foi aqui que começaram a descambar para a situação muito complicada que enfrentamos neste momento?

É verdade e tenho plena consciência disso, os tempos são outros, mas neste Porto dos últimos seis anos estão a acontecer coisas que são a antítese do que era o F.C.Porto do passado, acontecem coisas que por mais esforços que façamos, não conseguimos compreender e essas não são apenas consequência da conjuntura, são manifestamente culpa de quem dirige.

Ter como capitão de equipa um jogador que não saiu quando devia e pode sair a custo zero no próximo Verão - depois de já terem saído também a custo zero, Reyes e Marcano -, quando podia ter rendido perto de duas dezenas de milhões de euros; ou ter uma SAD que julga estar a fazer um trabalho tão bom que até se acha no direito a ser aumentada em 17%, em tempos de crise e com o F.C.Porto sob a alçada da UEFA, por ter violado o fair-play financeiro, são dois exemplos significativos, mas que estão muito longe de ser as excepções que confirmam a regra.

Como saímos daqui? Sinceramente, não sei. Em 2010, após a perda do campeonato do túnel da pouca vergonha, vi - e escrevi - o presidente a dar um murro na mesa, determinado em dar a volta. Deu. Agora, tirando uma ou outra declaração, não vejo a mesma coisa. Mais e pior, quando o F.C.Porto enfrenta uma situação muito complicada, com as contas a serem motivo de grande preocupação, um passivo que é o maior de sempre e depois de já terem aumentado os lugares anuais mais de 8%, saber que o presidente e os restantes administradores aceitaram um aumento salarial de 17%, é, repito, algo que nem fazendo um grande esforço consigo ultrapassar.

Se há momentos que nos fazem vacilar, a vontade de dizer chega, é muita, este seguramente é um deles. Sinto-me, enquanto portista, totalmente desrespeitado.

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