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quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Recebi de um amigo, tão portista como eu, que, por uma questão de feitio, não se quer identificar, uma reflexão, análise, à gestão da SAD do F.C.Porto. Concordo com a linha de pensamento e como ajuda a complementar os posts que fiz sobre política desportiva da SAD portista, em 2008 e 2009, ver aqui e aqui, resolvi, com a sua autorização e com um abraço de agradecimento, tornar-la pública.

A gestão da SAD do F.C.Porto
«- Como em qualquer família, associação ou sociedade comercial, também numa sociedade desportiva podemos entender mais adequada uma gestão de risco que invista fortemente na prossecução do sucesso desportivo ou, ao invés, optar por um modelo mais conservador, quiçá mais racional, que privilegie a estabilidade financeira e em que o sucesso desportivo é visto como consequência natural e necessária dessa mesma estabilidade.

Ora, olhados em abstracto, qualquer um destes modelos é passível de ser aplicado e executado com sucesso. Isto é, por si só nenhum deles é panaceia nem incontornável obstáculo, pois que, ambos podem ser razão de SUCESSO mas também de FRACASSO.
Por assim ser talvez importe desde já explicitar o que, na minha opinião, caracteriza a gestão de sucesso de uma SAD.

Ora bem, uma gestão eficaz tem que forçosamente conseguir dotar a "estrutura técnico-desportiva" de recursos valiosos, qualificados e capazes de alcançarem sucesso desportivo.
Assim, e se a nível nacional estamos integrados num "micro-cosmos" competitivo em que apenas dois adversários de forma regular e consistente, um mais do que outro, conseguem lutar connosco pelas vitórias teremos que conseguir:
1- Recrutar talento, i.e,jogadores,treinadores,pessoal médico e administrativo, nos mesmos patamares do mercado e se possível conseguir chegar um pouco mais alto que os nossos concorrentes.

2- Influenciar a eleição/nomeação dos altos-dirigentes da super-estrutura organizativa do futebol português sob pena de, não o fazendo,sermos presa fácil dos mais cobardes e traiçoeiros caçadores.
Por isso, não podemos descurar as relações com aqueles que têm peso na hora das grandes decisões. Assim sendo, a nossa gestão desportiva, agora "strictu sensu", não pode nunca negligenciar a compatibilização dos nossos interesses com as necessidades "desportivas" daqueles que têm voto nessas matérias.
Ou seja, não é possível gizar uma política de empréstimos, e de dispensa de jogadores, eficaz e consequente, sem levar em linha de conta o que acima escrevi.

3- Criar uma estrutura que reúna profissionais das mais diversas áreas e que propicie uma rápida adaptação e integração de todos quantos sejam por nós recrutados, bem como, das suas famílias.
 
4-Implementar uma cultura de exigência, ultra-competitiva, capaz de potenciar o talento e as competências dos nossos profissionais.


Sem dúvida que em traços mt gerais são estas as linhas-mestras da, tão reclamada por todos,gestão de sucesso.
E antecipando de alguma forma a conclusão final direi que são também estes os pilares da gestão que a FC Porto SAD tem implementado.
E agora a pergunta que se impõe : É possível alcançar tal desiderato com um modelo de gestão conservador e que rejeite correr determinados riscos?

Julgo que NÃO, pois que:

A- tem sido evidente nas últimas épocas uma maior agressividade gestionária do nosso maior concorrente que se traduz, não apenas, na aquisição de jogadores mais reputados, e por isso mais caros, mas também numa política de empréstimo de jogadores mais criteriosa e mais condicionada pelos interesses eleitorais.
Por outro lado, a sua capacidade de influenciar a opinião pública desportiva e por consequência os comportamentos e decisões dos agentes (árbitros,dirigentes etc) desportivos tem aumentado exponencialmente mercê de uma CS desportiva engajadíssima que pressiona,achincalha,vilipendia e ataca sem dó nem piedade todos os que não se vergam nem submetem aos caprichos e interesses do clube do regime.
Como se não bastasse, mantêm presença cada vez mais marcante em lugares que permitem as mais diversas interferências no curso normal das competições desportivas nacionais.
E em jeito de desabafo deixo aqui a pergunta, alguma vez o fc porto beneficiou de um exercício tão parcial, nebuloso e desrespeitador das normas e princípios a que devia estrita obediência, como o que Ricardo Costa levou a cabo aquando da sua comissão de serviço na presidência da disciplina da liga??
E já agora, se tivesse agido da mesma forma mas em benefício do F.C. Porto julgam que a CS tê-lo-ia poupado como poupou?

B – A crise económico-financeira que se abateu sobre a europa e principalmente sobre o nosso país dificulta cada vez mais o acesso ao crédito, pelo que, estamos cada vez mais dependentes das receitas que consigamos gerar, sejam elas ordinárias ou extraordinárias.
Sabendo nós que o mercado publicitário português além de exíguo está em recessão, sabendo nós que o sector empresarial do estado é mt mais generoso com o clube do regime do que connosco, o que nos resta senão conseguir aumentar as receitas mais directamente relacionadas com a performance desportiva da equipa de futebol? Isto é, bilheteira,direitos televisivos,vendas de passes etc.
Destarte, caso deixássemos de vencer com a regularidade que temos vencido nosso destino seria negro, pois que, interromperíamos o círculo virtuoso que temos sabido desenhar.
Vitórias – Valorização de activos – Realização mais-valias – Maior capacidade para recrutar talento – Equipas competitivas – vitórias

C- Acresce que:
- O desenvolvimento económico que o leste europeu conheceu permite que clubes dessa zona do globo intervenham de forma agressiva no mercado português e internacional encarecendo um produto a que antes acedíamos em melhores condições;
- O progresso económico que o Brasil está a viver encareceu sobremaneira o jogador brasileiro tornando impossível recrutar os melhores sem recorrer a parcerias e aos tão polémicos fundos que nos ajudam na hora de comprar mas que,inevitavelmente,nos “prejudicam” na hora de vender;
- Os efeitos do acórdão Bosman fizeram disparar o preço dos jogadores portugueses levando os melhores para o estrangeiro e os que vão ficando, quando de valor acima da média, obrigam os clubes a um esforço suplementar na medida em que logo nas camadas jovens são assediados com propostas milionárias.

D- Aqui chegados, julgo não restarem mtas dúvidas de que nos tempos mais próximos teremos que continuar a privilegiar a vertente desportiva sob pena de nos vermos ultrapassados, a nível nacional pela equipa do regime, e a nível internacional por uma segunda linha de clubes pertencentes às ligas mais fortes, que poderiam cavar um fosso capaz de se revelar definitivo obstáculo.
Aliás, se olharmos à inversão da política gestionária do scp perceberemos que os seus dirigentes se renderam à evidência, isto é, assumiram que a contenção dos custos e a aposta quase exclusiva no talento “made in alcochete” levou a equipa de futebol ao descalabro desportivo e por consequência, vestiu de deserto, o estádio de Alvalade.

E esse foi sem dúvida o modelo mais conservador e, em determinada acepção, mais racional que algum clube português ousou implementar. No entanto, olhando aos resultados digo que não é essa a gestão que quero ver implementada no meu clube.
Prefiro o actual modelo, prefiro a arrojada aposta no sucesso desportivo pois só assim conseguiremos aumentar distâncias para os concorrentes nacionais e aproximar-nos dos internacionais.
No entanto, logo que a conjuntura o permita é imperioso que utilizemos parte significativa da liquidez que consigamos criar/aceder para combater o déficit, digo, o passivo e manter a situação financeira da SAD longe da Red Line.»

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