domingo, 23 de agosto de 2015
Como disse na altura própria, não sou insensível ao que vou vendo, mas não valorizo muito os resultados dos jogos particulares, sejam eles bem ou mal conseguidos. Esses jogos servem para detectar o que está mal e corrigir, aperfeiçoar aquilo que está bem, dar minutos e ritmo, de forma que quando começarem os jogos a sério possamos dar a resposta que se pretende. Mas quando é a valer o critério de análise tem de mudar e mesmo com a tolerância que deve ser dada ao facto de a procissão ainda não ter saído do adro e de haver alterações profundas na composição da equipa que, mais coisa menos coisa, será o onze base - não acordei agora para esse facto de terem saído vários titulares e o trabalho de Lopetegui não ser fácil, já há mais de 2 meses que falei do assunto -, no jogo de ontem as expectativas foram completamente defraudadas, o empate significou um enorme balde água fria. Para mim e que fique claro, apesar da perda de 2 pontos, nem foi tanto por isso, foi mais porque a equipa mostrou os mesmos defeitos da temporada anterior e que não têm nada a ver com os jogadores, têm mais com o chamado processo, se quiserem, o modelo do F.C.Porto de Lopetegui. Ontem, nos Barreiros, a forma como a equipa se exibiu, os pecados que cometeu, em particular na segunda-parte, fez-nos recuar aos piores momentos da época anterior, significou uma enorme machadada no entusiasmo e na confiança do universo portista, que estava em alta. Vejamos. Na semana anterior e frente ao Vitória S.C., que não sendo um adversário dos mais fortes, é sempre uma adversário que não deve ser menosprezado, o F.C.Porto, sem deslumbrar, fez um jogo sério, competente, ganhou naturalmente, criou expectativas para o que vinha a seguir, prometeu mudar a história recente das deslocações à Madeira. Não era um jogo de Champions, não era uma equipa de topo, mas era o Marítimo que nos últimos jogos nos tem criado muitos problemas. Sabíamos que íamos ter pela frente uma equipa aguerrida, bem organizada, motivada e confiante pelos resultados conseguidos anteriormente - um empate e três vitórias nos últimos quatro jogos em casa frente ao F.C.Porto. Sabíamos que íamos encontrar jogadores disponíveis para dar tudo, um relvado que não é o melhor. Resumindo, era um excelente teste, um primeiro exame ao F.C.Porto 2015/2016. O jogo ideal para ficarmos a saber se aquilo que vimos na primeira-jornada ia ter continuidade. Resultado do exame: F.C.Porto chumbado e às mesmas disciplinas.
Ainda estava o jogo a começar e na 1ª vez que o Marítimo chegou à área do F.C.Porto, marcou. O cruzamento foi bom, mas foi um erro grosseiro do conjunto azul e branco. Nada de novo.
Reagimos bem, tivemos um bom período, cerca de 20 minutos, mas no nosso melhor momento não marcamos, depois empatamos, mas já quando tínhamos perdido gás, capacidade para pressionar, o domínio não era tão intenso, o Marítimo estava novamente cómodo no jogo. Depois do empate, fomos para cima, procuramos com afinco o segundo? Não, o efeito golo não se notou, não deu o alento e o estímulo necessário para dar a volta ao resultado. Também aqui nenhuma novidade.
Na segunda-parte e quando se esperava uma entrada forte, com tudo, ela não aconteceu, pelo contrário, os madeirenses entraram melhor. Lopetegui viu e mexeu, mas as substituições não trouxeram melhorias à equipa. Tello tal como Varela tão depressa fazia bem como logo a seguir borrava a pintura; André André tal como Herrera, não é um rompedor, quase se limitava a baixar para receber dos centrais e tocar, na única vez que se soltou, jogada de perigo, golo iminente e que Aboubakar desperdiçou ingloriamente. Mais do mesmo.
Depois e quando a partida caminhava para o fim, nunca houve a alma, raça e coração para cair em cima do Marítimo, criar situações de perigo. O lance de Maxi e no último suspiro do jogo, foi apenas a excepção que confirma a regra. Curioso e sintomático, um jogador que chegou agora ao F.C.Porto, foi um dos raros exemplos de alguém que acreditou até ao fim, veja-se onde estava no lance que levou a bola à barra... Também nesta matéria tudo continua igual e é mau sinal. Esperar que esta equipa tenha capacidade para se transcender é esperar demasiado. Apenas dois ou três são capazes disso.
Como não faça prognósticos depois dos jogos, até posso achar que a última substituição foi errada, mas nada nos garante que se as mexidas não existissem ou fossem outras, o resultado fosse diferente, não exploro muito esse assunto. Digo apenas que apesar de não esperar muito de Osvaldo, esperava mais, pelo menos que fosse capaz de disputar as bolas sem fazer sempre falta, sem mostrar ferver em pouca água.
Há quem ache que falta um 10 e já tem barbas esse tema. Ao ver o jogo de ontem, pergunto: para quê? Para vir receber bolas junto aos centrais e depois, qual Messi, ir por ali fora, fintar meio mundo, assistir ou marcar? Onde está e quanto custa esse jogador? Não, temos é ter outras dinâmicas. Os médios não podem estar quase ao lado uns dos outros, se um baixa os outros têm de procurar outros espaços, dar linhas de passe, para a frente e não para o lado. E que dizer dos centrais, muitas vezes os únicos que têm terreno livre, mas que nunca saem a jogar, ou lateralizam entre si ou nos laterais, ou metem longo na frente ou entregam ao médio que recebe ali a dois ou três metros. Irrita-me muito ver que os centrais quase só passam do meio-campo nos lances de bola parada.
Outra coisa que não gosto, é forma, sempre igual, como Brahimi joga. O lateral do seu lado tem vida difícil. Sobe, uma, duas, três vezes, e bola?, raramente o argelino toca no lateral, interioriza quase sempre, torna-se muito mais previsível, logo menos influente. Será que sou eu que estou a ver mal? O génio e a criatividade de Brahimi é algo que a equipa não pode perder, mas é próprio dos génios e dos criativos, inventar, mudar, não repetir.
Concluindo, mais que jogadores, é preciso desrobotizar o modelo, dentro de determinados princípios, dar liberdade para arriscar. Não gosto de equipas desorganizadas, desequilibradas, anárquicas, mas também não gosto de jogadores escravos da táctica e do modelo, castrados, tolhidos pelo medo de errar.
Nota final:
Vamos entrar numa semana decisiva para arrumar a casa e essa tarefa compete a quem dirige. Depois, compete ao treinador e jogadores fazerem a sua parte, corrigir o que está mal, criar condições para recuperar a confiança que ficou abalada, de forma que os adeptos continuem a acreditar, o entusiasmo e o apoio, que não tem faltado, não se desvaneçam.
No futebol e num clube habituado a ganhar como o F.C.Porto, iniciar nova época vendo que há erros que persistem, faz-nos perder clarividência, exagerar, colocar tudo e todos em causa, dizer hoje uma coisa e amanhã o seu contrário. As paixões tornam-nos irracionais, mas faz parte do futebol, se não fosse assim não tinha piada.