Julgo que é obrigatório no futebol europeu as equipas das primeiras ligas terem formação.
A formação dos jovens jogadores serve para que mais tarde sejam integrados no plantel sénior, o que acarreta com isso dois valores: o monetário - é muito mais barato ficar com um jovem vindo da formação que comprar um jogador a outro clube - e o sentimental - o jogador vindo da formação traz com ele a “alma” a “mística”, enfim conhece bem os cantos da casa.
Portugal, a nível desportivo, é um autêntico santo milagreiro. Consegue façanhas que outros mais ricos só o fazem pelo poder económico e financeiro que dispõem, os portugueses pelo talento da prata da casa e por um ou outro “reforço” que vem de fora. Só que há algo de anormal na formação portuguesa e em especial na do F.C.PORTO dos últimos anos: não produzimos valores suficientemente bons para se afirmarem na equipa principal e os valores emergentes médios são imediatamente vendidos ou cedidos com opções de compra. Não sei de quem é a culpa, mas sei que dos jogadores não é!

Mourinho já dizia: “um clube com a dimensão do F.C.PORTO precisa de ter os seus activos elevados ao expoente máximo de modo a que a um determinado momento tenha condições para vender, caso isso seja necessário”! Ora, é isso que neste momento acontece no F.C.PORTO. E os activos vendidos, para uns muito bem vendidos, para outros, por tuta e meia, foram apenas dois; André Silva e Rúben Neves. Todos os outros foram despachados após anos de empréstimos ou então com o rótulo de “jamais jogarás aqui por isso podes assinar à vontade pelo clube onde estás a jogar agora”! No meu entender, a formação ou o berço de um clube, precisa de alguém especial. É o sector mais importante da vida de um clube. Não é com mestrados nem canudos universitários que se faz um bom pedagogo. Aliás os melhores formadores portugueses até quase que roçavam o básico escolar e os melhores do F.C.PORTO não se escudavam em palestras de faculdades. Artur Baeta, Feliciano, Costa Soares e Monteiro da Costa, sendo a meu ver Ilídio Vale o ultimo dos moicanos da formação portista, não se refugiavam em gabinetes a olhar para os monitores de computadores e somar estatísticas. Não! Saíam para a rua, davam uma volta pela cidade, viam os putos descalços a jogar nos paralelos da vida ou nas areias lacrimosas em praias de sonhos transformados em estádios de futebol. Quantos e quantos craques portistas não foram descobertos pelo olhar atento e pelo conhecimento empírico destes homens? Quantos craques não começaram por rasgar os joelhos nas pedras da rua? Hoje qualquer puto começa pelo sintético fofinho, com o papá a ver e a sonhar em Ronaldos! No meu tempo, o meu pai nem sequer se dignava a assistir a um treino meu e só via um jogo se fosse contra uma equipa importante!

Com a crise instalada, o FC PORTO sabe, ou deveria saber, que a formação é a solução para a viabilidade económica do clube. Mas e há sempre um “mas”, há sempre um chico-esperto que a pensar nas suas comissões, na sua conta bancária, ou apenas e só no seu falso portismo, diz que não é com formações que se ganham títulos! Francamente! José Maria Pedroto a esta hora deve dar voltas na tumba! E o F.C.PORTO campeão europeu em 1987, deve ter sido um sonho ou uma miragem que nos afectou a moleirinha! Atente-se no Real Madrid, Barcelona, nos clubes franceses, que há uns anos para cá decidiram transformar Iniestas, Xavis, Iscos, Ramos, Llorentes, Torres, Casillas, e tantos outros em campeões. Foi com a formação! E é da formação que sai a humildade, o amor ao clube a paixão por deixar a pele em campo! Ou como diz e muito bem Casillas “nenhum jogador está acima do clube”!
Co Adriaanse, esse mesmo, defende que é na formação que está o espírito do clube. Os adeptos idolatram muito mas muito mais um jovem da casa que um craque vindo de fora. E é “obrigação” dos formadores estarem á altura desse espírito. Infelizmente, por aquilo que vejo, neste momento no F.C.PORTO, os formadores apenas são técnicos especializados em ministrar treinos a crianças! Ou será que na cidade do Porto e arredores deixou-se de saber jogar á bola? Porque será que no FC PORTO não há putos rebeldes como por exemplo no Sporting? Será culpa das crianças ou dos formadores, que preferem o conforto do gabinete a ver vídeos de pseudo craques do que partirem à descoberta de valores emergentes?

Sabiam que há formadores que na primeira finta, repreendem os miúdos? Sabiam que há formadores que não permitem que os miúdos joguem futebol fora do clube? Sabiam que há formadores que apenas se baseiam num único teste para julgar se determinado miúdo sabe ou não sabe jogar á bola? E já dizia o Prof. Vítor Frade, "os testes são como os bikinis, mostram muita coisa, menos o essencial!" Bem sei que a sociedade transforma-se dia a dia; bem sei que os dias de hoje não são os de ontem; bem sei que os putos de agora andam de orelhas tapadas a ouvir hip-hops, enquanto dantes até dormiam com a bola; bem sei que os putos, hoje, falam descaradamente na cara dos formadores, enquanto antes os viam como as pessoas mais sábias á face da Terra. Mas será que não contribuímos para este estado de coisas? Não há papás a pressionar terrivelmente os miúdos durante um jogo como se fossem eles o treinador principal da equipa, transformando a sua frustração de zé-ninguém num filho superior ao Messi? Como infelizmente também sei que o sucesso ou a ausência dele, sobretudo em Portugal, faz com que não se pare para reflectir, para ver onde está o erro, para curar a doença. Bem antes pelo contrário, insiste-se na ideia de que tanto errar acabará por dar certo (?), e que para uma doença se não há medicamento vai umas mezinhas do bruxo dali do lado!
Por isso digo que um treinador, seja ele quem for e em especial no F.C.PORTO, jamais poderá trabalhar dissociado da formação e jamais um formador poderá adulterar o espírito, a “mística” do clube!

Neste momento temos uma meia dúzia de jovens jogadores que bem acompanhados poderão um dia ser estrelas do nosso firmamento: Fede Varela, Galeno, Dalot, Diogo Costa e João Costa e porque não Andorinha, Rui Pedro… enfim, basta que haja um professor à altura dos alunos! Partamos do zero, mas façamos da formação uma fábrica de talentos para a equipa principal e não uma oficina de empréstimos e mais empréstimos para saídas a custo zero para os Tondelas deste Mundo!
Afinal, a formação mais não é que um conjunto de características que queremos ver nos jogadores e que devem obedecer ás regras instituídas pela história do F.C.PORTO!
Mas haverá quem as ensine?